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Premier turco promete suspender reforma do parque palco de protestos

A decisão foi consideradas como um gesto positivo pelos manifestantes de Istambul

Istambul - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu nesta sexta-feira (14/6) suspender, até que a justiça se pronuncie a respeito, o projeto de reforma do parque Gezi de Istambul, que originou os protestos que atingem há duas semanas o país, um gesto considerado positivo pelos manifestantes. Algumas horas depois de ter lançado um último aviso aos milhares de manifestantes que seguem ocupando o parque Gezi, o chefe de governo recebeu, pela primeira vez desde o início da crise política, uma delegação de uma dezena de artistas e representantes da sociedade civil, incluindo dois conhecidos porta-vozes da coordenação dos manifestantes.

[SAIBAMAIS]Depois de quatro horas de reunião em plena noite, não foi adotada nenhuma decisão concreta, mas uma série de promessas e garantias por parte das autoridades que permitem contemplar uma saída para a crise. O governo, que repetia até então sua vontade de seguir com seu controverso projeto de reconstrução de uma caserna militar da época otomana no lugar das 600 árvores do parque Gezi, aceitou esperar que a justiça emita uma sentença sobre o caso. "É claro, o governo se compromete a respeitar a decisão da justiça e aplicá-la", declarou após a reunião o vice-primeiro-ministro, Huseyin Celik.



No dia 31 de maio, um tribunal administrativo de Istambul, ao qual recorreram opositores ao projeto, decidiu suspender as obras para ter tempo de se pronunciar sobre a questão. O governo apelou da decisão. "O tribunal regional agora é o responsável e pode ser que apelemos para um tribunal de Estado. Mas nada será feito no parque Gezi enquanto o procedimento estiver em andamento", acrescentou Celik, confirmando a vontade do governo de organizar um referendo municipal "seja qual for" a decisão da justiça. Buscando acabar com o protesto, o vice-primeiro-ministro apresentou sua postura como um avanço. Mas exigiu novamente a evacuação do parque Gezi. "Os que protestam têm que parar já com suas manifestações", disse, e mostrou-se novamente ameaçador: "O governo foi até agora extremamente tolerante".

Confronto


Os dois representantes do Solidariedade Taksim, o grupo de 116 associações que dirige a ocupação do parque Gezi, deixaram a reunião com uma impressão otimista. "A nota positiva da noite são as explicações do primeiro-ministro dizendo que o projeto não seguirá adiante até que a justiça dê seu veredicto final", declarou um deles, o urbanista Tayfun Kahraman. "Esperamos que (os manifestantes) avaliem o enfoque positivo que saiu desta reunião", acrescentou. O grupo indicou, por sua vez, que divulgará sua postura oficial sobre a reunião ainda nesta sexta-feira. O primeiro-ministro também deve se expressar diante dos barões de seu partido também nesta sexta-feira.

Centenas de militantes, com a mesma determinação, passaram mais uma noite no parque Gezi, apesar da ameaça de uma nova intervenção das forças de segurança. Milhares de pessoas se uniram a eles na noite de quinta-feira na praça Taksim, sempre controlada por grandes efetivos da polícia antidistúrbios. Algumas horas antes da reunião convocada com urgência em Ancara, Erdogan lançou na quinta-feira um último aviso aos manifestantes que seguem desafiando sua autoridade, pedindo para que deixassem o local. Mas os manifestantes se negaram, levantando o temor de um novo confronto violento. "Seguiremos no parque Gezi com nossas tendas de campanha, nossos sacos de dormir, nossas canções, nossos livros, nossos poemas e todas as nossas reivindicações", lançou um de seus porta-vozes, o advogado Can Atalay.

Certo do apoio da maioria dos turcos, o primeiro-ministro adotou, desde o início da crise, um tom muito firme contra os manifestantes, que denunciam sua atitude autoritária e o acusam de querer islamizar a sociedade turca. Sua intransigência lhe valeu muitas críticas e manchou sua imagem no exterior, entre outros na União Europeia e nos Estados Unidos. Segundo o último balanço publicado na terça-feira pelo sindicato dos médicos turcos, as manifestações deixaram quatro mortos, três manifestantes e um policial, e 5.000 feridos, dez deles em estado grave.