Buenos Aires - As patronais argentinas da agricultura iniciarão sábado uma greve de cinco dias em protesto contra os impostos às exportações, que paralisará os carregamentos de grãos ao exterior, em um país que é um dos maiores exportadores mundiais de alimentos.
A interrupção do comércio de grãos e gado começará na meia-noite de sábado, 15, e se prolongará até a meia-noite de quarta-feira, 19, informaram as quatro organizações mais importantes do setor em um comunicado.
Os agricultores da Argentina, principal exportador mundial de óleo e farinha de soja e terceiro de milho, mantêm uma longa disputa com o governo pelas tarifas às vendas ao exterior de grãos e as restrições às exportações de trigo e milho.
O governo da presidente Cristina Kirchner aplica impostos de 35% às vendas ao exterior de soja, o principal cultivo do país, e apenas autoriza as exportações de trigo e milho quando a produção excede as necessidades do mercado local.
"O governo nacional nos obriga a passar das propostas aos protestos", diz o comunicado das patronais, que critica "o desrespeitoso silêncio" obtido como "resposta aos inumeráveis pedidos de audiência com a presidente".
Os líderes do principal setor produtivo da Argentina anteciparam que o protesto não ameaçará a venda de produtos perecíveis como frutas e leite.
"Não há nenhuma possibilidade de desabastecimento à população e não deve haver nenhum aumento dos preços que prejudique o consumidor", afirmou Miguel Etchevehere, presidente da Sociedade Rural Argentina, que reúne os grandes produtores.
A queda de braço dos agricultores com o governo remete a 2008, quando uma greve de 128 dias deixou o país sob suspense e provocou desabastecimento nas principais cidades.
O conflito derrubou a popularidade do governo e fez fracassar, no Congresso, um projeto de impostos móveis às exportações de grãos.
Este protesto, apesar de mais brando, acontece em um momento em que estão sendo fechadas as alianças políticas e as listas de candidatos para as legislativas de outubro, quando será renovada metade da câmara baixa e um terço do Senado.
O impacto concreto do lock-out será sentido na semana seguinte, já que no final do protesto não haverá atividade comercial porque é feriado na Argentina na quinta-feira, dia 20 e na sexta, 21.
Os agricultores anteciparam que se concentrarão nas rodovias, sem interromper o trânsito e que os caminhões serão revistados para garantir o cumprimento da medida.
Eduardo Buzzi, da Federação Agrária Argentina que reúne pequenos e médios produtores, tinha alertado, na semana passada, que a greve poderia afetar as exportações de grãos.
"A interrupção da comercialização incluirá as cargas de cereais para os navios que estão esperando nos portos", disse Buzzi em declarações de rádio.
Contudo, considerando os feriados de quinta e sexta-feira e o fim de semana, o protesto só se estenderá por três dias úteis.
As exportações agrícolas da Argentina se elevaram em 2012 a 27,5 bilhões de dólares, em um total de vendas ao exterior de 81 bilhões da moeda norte-americana.
O governo argentino depende, em grande parte, da arrecadação proveniente das vendas de grãos, principalmente da soja, ao exterior para se financiar.