Jornal Correio Braziliense

Mundo

Primeiro-ministro turco esboça gesto de conciliação aos manifestantes

O chefe de governo se mostrou um pouco mais conciliador à tarde em um fórum internacional, ao se declarar pronto para ouvir todas as "reivindicações democráticas"

ISTAMBUL - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, esboçou nesta sexta-feira (7/6) um gesto de apaziguamento aos manifestantes que exigem há oito dias a sua renúncia, após um novo apelo da Europa pelo fim da violência policial.

Firme em relação aos "vândalos" e os "extremistas" diante de seus partidários em sua volta à Turquia à noite, o chefe de governo se mostrou um pouco mais conciliador à tarde em um fórum internacional, ao se declarar pronto para ouvir todas as "reivindicações democráticas".

"Somos contrários à violência, ao vandalismo e às ações que ameaçam os outros em nome das liberdades (...) mas recebemos de todo coração os que vêm com exigências democráticas", declarou Erdogan em um discurso pronunciado em Istambul.

A Bolsa de Istambul reagiu a esta mudança e, no momento de seu fechamento, registrou alta de mais de 3%. Pouco antes de discursar, os europeus lembraram o dirigente turco de seus deveres democráticos.

"O recurso excessivo à força não tem lugar em uma democracia", disse o comissário europeu Stefan Füle, que considerou "legítimo" o fato de os manifestantes expressarem suas oposições. Ele também exigiu uma investigação "rápida e transparente" sobre a violência policial.

Apesar do apelo à ordem, Füle assegurou que as questões que agitam a Turquia e os erros cometidos pelas forças de ordem não terão impacto sobre o processo de adesão do país à União Europeia (UE), paralisado há anos.

A chanceler alemã Angela Merkel também alertou as autoridades turcas, insistindo que espera "que os problemas com a juventude do país sejam discutidos e que a violência não seja exercida contra os manifestantes" turcos.

O primeiro-ministro turco respondeu denunciando "dois pesos e duas medidas" das críticas que chovem contra ele desde o início da contestação.



[SAIBAMAIS] --- Risco de confronto ---

"Eventos semelhantes aconteceram em vários outros países, na Grécia, na França, na Alemanha. São todos países da União Europeia. O que tem a nos ensinar aqueles que vivenciaram o ;Ocupe Wall Street;?", questionou em referência ao movimento de contestação pacífico que denunciou em 2011 em Nova York os abusos do capitalismo financeiro.

Erdogan mencionou 17 mortes durante o movimento de contestação pacífica nos Estados Unidos. "Falso", respondeu a embaixada os Estados Unidos no Twitter. "Não tivemos mortos americanos". De volta à Turquia, após uma viagem ao exterior, Erdogan adotou um tom muito mais firme.

Para milhares de partidários, ele exigiu o fim "imediato" das manifestações que, segundo ele, "perderam seu caráter democrático e degeneraram em vandalismo". "Eles nos pediram a retirada da polícia. E depois, o que mais? Esta não é uma terra de ninguém", acrescentou.

Esta demonstração de força foi a primeira resposta pública organizada nas ruas pelo Partido da Democracia e do Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002, desde o início da contestação, o que aumenta o risco de uma escalada da violência.

Milhares de pessoas voltaram a se reunir, como em todas as noites anteriores, na emblemática praça Taksim de Istambul para exigir a renuncia de Erdogan. Nesta sexta à noite, este coração da revolta contra o governo estava novamente ocupado pelos manifestantes.

"Não iremos sair daqui", assegurou à AFP Murat Tepe, um estilista de 36 anos. "As pessoas vão continuar a vir", prometeu, "não temos medo de nada. Antes todos tinham medo de falar, agora isso acabou".

Graças a uma campanha na internet que permitiu recolher 102.000 dólares, os opositores conseguiram um anúncio de página inteira no New York Times no qual exigem "o fim das brutalidades policiais" e denunciam "a erosão constante dos direitos cívicos e das liberdades" dos turcos.

O polêmico projeto de urbanização da Praça Taksim de Istambul, que inclui a destruição do parque Gezi e de suas imponentes árvores, desencadeou a onda de protestos. Mas a reivindicação pelo abandono do projeto logo se estendeu a uma exigência de renúncia do governo.

Os críticos do primeiro-ministro denunciam o "exercício putinista" do poder: meios de comunicação de propriedade do regime, concentração pelo APK de todas as instâncias do poder, prisão em massa de opositores curdos e de extrema-esquerda, além da islamização da sociedade.

Aos 59 anos, onze deles à frente do governo, Erdogan transformou a Turquia em uma potência regional dotada de uma economia em plena expansão, mas constatou no Marrocos e na Tunísia a perda de crédito devido a sua política. O rei do Marrocos, Mohammed VI, não o recebeu e a sua viagem à Tunísia foi marcada por manifestações hostis.

Nos últimos dias, dois manifestantes e um policial morreram na Turquia em eventos ligados ao movimento de contestação. Além das mortes, 4.785 pessoas ficaram feridas em uma semana, entre elas 48 de forma grave, segundo um último balanço de fontes médicas e sindicais.