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Sindicatos se juntam a protestos na Turquia após seis dias de manifestações

Protestos exigem a renúncia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan

Istambul - Os protestos na Turquia contra o governo de Recep Tayyip Erdogan entraram em uma nova fase nesta quarta-feira, com a mobilização de milhares de pessoas convocadas por dois sindicatos, no sexto dia consecutivo de protestos que exigem a renúncia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

A Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK) e a Confederação Sindical dos Trabalhadores Revolucionários (DISK), dois movimentos de esquerda, organizaram marchas de protesto nas maiores cidades do país.

Em Istambul, os manifestantes se reuniram durante a tarde na Praça Taksim, coração dos protestos que agitam a Turquia, gritando "Taksim, resiste, os trabalhadores chegam" e "Tayyip, os saqueadores estão aqui".

O mesmo aconteceu na capital Ancara, onde pelo menos 10 mil manifestantes, alguns exibindo imagens com a imagem do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, também se manifestaram aos gritos de "Liberem o caminho, chegam os revolucionários", ou "Taksim está em todas as partes", agitando bandeiras turcas.



À espera do retorno na quinta-feira à Turquia do chefe de Governo, em visita oficial ao norte da África, os manifestantes continuam determinados a mostrar sua força, apesar do pedido de desculpas feito pelo vice-primeiro-ministro Bülent Arinç às vítimas da violência policial dos último dias.

"Antes, as pessoas temiam expressar seus medos publicamente. Mesmo os tuites eram um problema. Agora, eles não têm mais medo", declarou, em meio à multidão de manifestantes, Tansu Tahincioglu, que dirige uma empresa na internet.

"Erdogan deve se desculpar, renunciar e ser levado à justiça para responder pelo excesso de força (policial) e por tudo o que fez com a imprensa", acrescentou.

Após uma reunião com Arinç em Ancara, os representantes dos manifestantes turcos exigiram do governo que o governo demita os chefes de polícia de várias cidades do país, incluindo Istambul e Ancara, pelo uso excessivo da força.

Por meio de um porta-voz, o arquiteto Eyüp Muncu, eles também exigiram a libertação das pessoas detidas, o abandono do projeto de destruição da praça Taksim e do parque Gesi, o fim do uso de gás lacrimogêneo e respeito à liberdade de expressão no país.

O escritor turco Orhan Pamuk, prêmio Nobel de Literatura em 2006, denunciou a atitude "repressiva" do governo turco e saudou os manifestantes, em um texto publicado nesta quarta pelo jornal Hürriyet.

--- Brutalidade policial ---

Como nas noites anteriores, confrontos foram registrados em Istambul e Ancara durante a madrugada. As forças de segurança utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d;água para dispersar centenas de manifestantes que tentavam se aproximar do gabinete do primeiro-ministro.

Nas duas cidades, os manifestantes permaneceram distantes da polícia, respeitando os apelos feitos nas redes sociais. Apenas os mais exaltados entraram em confrontos com as forças oficiais.

No âmbito diplomático, o chefe da diplomacia turca, Ahmet Davutoglu, conversou por telefone na terça à noite com seu homólogo americano, John Kerry, para manifestar a insatisfação de Ancara após uma série de comentários de Washington sobre as manifestações na Turquia, segundo um diplomata turco.

"A Turquia não é uma democracia de segunda classe", afirmou Davutoglu a Kerry, segundo essa fonte, que pediu para não ter sua identidade divulgada.

Davutoglu também disse a Kerry que está realizando uma investigação sobre o uso excessivo da força por parte de alguns elementos da polícia turca.

Durante a manhã, ao menos 25 pessoas foram detidas em Izmir (oeste) por terem difundido no Twitter "informações mentirosas e difamatórias", segundo a agência de notícias Anatólia. Ali Engin, uma liderança local do principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), disse à Anatólia que os suspeitos tinham sido detidos por terem "convocado as pessoas para protestar".

No domingo, Erdogan criticou publicamente o Twitter e as redes sociais, chamando-os de "criadores de problemas"

Afastando-se da postura firme de Erdogan, Arinç adotou um discurso mais conciliador.

Ao deixar uma reunião com o presidente Abdullah Gül na terça-feira, ele pediu desculpas aos civis feridos, à exceção daqueles "que causaram danos nas ruas e tentaram comprometer a liberdade das pessoas".

Os manifestantes acusam Erdogan de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a Turquia laica.

"Não temos o direito ou o luxo de ignorar o povo, as democracias não podem existir sem oposição", ressaltou Arinç, antes de afirmar que o governo aprendeu com os eventos.

Além das duas mortes confirmadas no domingo e na segunda-feira, a violência deixou mais de 2.800 feridos desde sexta, segundo organizações de defesa dos direitos humanos e sindicatos médicos.