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Damasco participará da conferência internacional de 'Genebra 2'

O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, expressou sua esperança no avanço do projeto da conferência internacional

Beirute - Damasco manifestou neste domingo (26/5) a sua intenção de participar da conferência internacional "Genebra 2", destinada a reunir a oposição e o regime sírios para tentar encontrar uma solução para o conflito no qual o Líbano acaba de ser envolvido.

O ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Mouallem, declarou ter comunicado "ao primeiro-ministro (iraquiano) e a Hoshyar (Zebari, chefe da diplomacia iraquiana) a decisão de participar, a princípio, da conferência internacional que deve acontecer em Genebra". "Acreditamos que esta conferência internacional será uma boa oportunidade para encontrarmos uma solução política para a crise na Síria", acrescentou ele, referindo-se a "Genebra 2", que foi proposta por Washington e Moscou e está prevista para ser realizada em junho.

Mas "o regime ainda não falou se (Assad) estava disposto a deixar o poder", ressaltou o porta-voz da Coalizão Opositora, Louay Safi.

Reunida desde quinta-feira em Istambul, a Coalizão não tinha conseguido neste domingo superar suas divisões para adotar uma postura clara sobre estas negociações.


O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, expressou neste domingo sua esperança no avanço do projeto da conferência internacional. "Receberei segunda-feira à noite meus colegas americano e russo e iremos discutir" a preparação da conferência internacional, declarou Fabius à imprensa.

"Parece-me que, por parte do regime de Bashar al-Assad, alguns nomes já foram apresentados" para representar Damasco na mesa de negociações, acrescentou, manifestando seu desejo de que a Coalizão Opositora síria, reunida em Istambul, "possa fazer o mesmo".

Os curdos na Síria manifestaram sua intenção de participar de forma independente ou ao lado da oposição.

Os europeus, divididos há meses a respeito do fornecimento de armas aos rebeldes, se reúnem na segunda em Bruxelas para abordar o conjunto de sanções contra o regime sírio, que inclui o embargo de armas e expira em 31 de maio à meia-noite.

A organização humanitária Oxfam considerou que o fim do embargo pode ter "consequências devastadoras" para a população civil. Isso "seria irresponsável e poderia acabar com o frágil sopro de esperança que a cúpula entre americanose russos oferece".

Conflito se estende ao Líbano


Enquanto isso, o Líbano está cada vez mais envolvido no conflito na Síria, onde o Hezbollah libanês luta há uma semana ao lado das tropas do regime para recuperar o controle da cidade estratégica de Qousseir (oeste).

Neste domingo, quatro pessoas ficaram feridas na queda de dois foguetes na periferia sul de Beirute, reduto do movimento xiita Hezbollah, segundo uma fonte da segurança.

Um dos foguetes caiu sobre uma concessionária de automóveis, ferindo quatro empregados sírios, segundo esta fonte.

O segundo foguete atingiu um apartamento e causou grandes estragos, mas sem deixar vítimas, de acordo com um fotógrafo da AFP no local.

"Esse incidente está, provavelmente, ligado ao conflito sírio", afirmou a fonte da segurança.

O presidente libanês, Michel Sleimane, afirmou que "os autores deste ataque (são) terroristas e vândalos que não (valem) a paz e a estabilidade para o Líbano e os libaneses", de acordo com um comunicado.

O ministro do Interior, Marwan Charbel, foi imediatamente para o local, onde denunciou "um ato de sabotagem com o objetivo de causar discórdia".

Os ataques ocorrem no dia seguinte ao discurso do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que prometeu sábado à noite a vitória na guerra na Síria, onde seu movimento combate os rebeldes, ao lado do Exército.

"A Síria é a última linha da resistência, o apoio da resistência. A resistência não pode permanecer de braços cruzados enquanto sua retaguarda estiver exposta. Se nós não agíssemos, seríamos idiotas", declarou Nasrallah em uma cerimônia em Machghara, no sul do Líbano, em ocasião do 13; aniversário da retirada israelense do Líbano.

Especialistas consideram que o Hezbollah entrou na guerra na Síria a pedido de seu mentor iraniano, que deseja manter Assad no poder, mas ressaltam que este envolvimento pode comprometer sua imagem no mundo árabe.

Em Trípoli, maior cidade do norte do Líbano, os combates entre partidários e opositores ao presidente sírio foram travados nesta madrugada. Trinta e uma pessoas, entre elas três soldados, morreram em sete dias de confrontos, segundo uma fonte de segurança libanesa.

O Líbano está dividido entre partidários do regime, liderados pelo Hezbollah xiita, e aqueles hostis a Damasco, com o ex-primeiro-ministro sunita Saad Hariri à frente.

O Kuwait fez um apelo neste domingo para que seus cidadãos evitem viajar ao Líbano e alertou aqueles que se encontram no país para deixá-lo o mais rápido possível.

No terreno, 22 combatentes do Hezbollah foram mortos em combates em Qousseir no sábado, segundo uma fonte ligada ao movimento xiita.