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Exército nigeriano se prepara para ofensiva contra insurgentes islamitas

O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, declarou estado de emergência na terça-feira nos três estados atingidos pelos ataques do grupo islâmico Boko Haram

Kano, Nigéria - O Exército nigeriano enviou 2 mil soldados e lançou uma ofensiva no noroeste do país para recuperar áreas controladas pelo grupo islamita Boko Haram, de acordo com uma fonte militar. Na quarta-feira o Exército já havia anunciado o envio de tropas para os estados de Borno, Yobe e Adamawa, com o objetivo de expulsar membros da seita armada que quer criar um Estado islâmico no norte do país.

"Nossos homens realizaram uma ofensiva contra os acampamentos terroristas na reserva Sambisa (no estado de Borno)", indicou uma fonte militar à AFP sob condição de anonimato. "Por enquanto, 2.000 soldados foram mobilizados no estado de Borno", acrescentou, sem dar detalhes sobre as tropas destacadas nos outros dois estados envolvidos nesta operação.

O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, declarou estado de emergência na terça-feira (14/5) nos três estados atingidos pelos ataques do grupo islâmico Boko Haram, assegurando que são necessárias "medidas extraordinárias" para responder à crescente violência.

[SAIBAMAIS]Em um vídeo recebido segunda-feira (13/5) pela AFP, o suposto líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, reivindicou dois ataques no estado de Borno: em Baga, em 16 de abril, que foi seguido por uma violenta repressão por parte do Exército, com um total de 187 mortos; e em Bama no dia 7 de maio, que terminou com pelo menos 55 mortos. O presidente apresentou como uma "declaração de guerra" a recente onda de violência reivindicada pelo grupo e, pela primeira vez, reconheceu que o Boko Haram tinha tomado o controle de partes do estado de Borno.

Habitantes dos três estados disseram ter visto um aumento no número de tropas nos últimos dias. Na pequena cidade de Marti (Borno), perto da fronteira com o Chade, Zangina Kyarimi disse à AFP ter visto "muitas unidades militares" chegando durante esta madrugada. "Eu vi dezenas de veículos militares, caminhões e tanques", contou por telefone da cidade considerada um dos principais redutos do Boko Haram.



"Estamos com medo do que pode acontecer nos próximos dias, estamos pensando em sair daqui", disse. A população está preocupada com os iminentes confrontos aos quais está exposta. A polícia pediu que os bancos fechem suas portas nesta quinta-feira (16) na cidade de Gashua, no estado de Yobe, onde supostos membros do Boko Haram atacaram a polícia e vários prédios públicos em 26 de abril, informou Musa Saminu, um morador local.

"Cerca de 30 veículos militares atravessaram a cidade (...) Eles levavam armamento pesado", declarou à AFP. "Alguns soldados passaram pelos bancos pedindo que fechassem por precaução." Segundo Nwakpa O. Nwakpa, porta-voz da Cruz Vermelha, a organização humanitária está pronta para apoiar os civis afetados pela operação militar.

As forças de ordem nigerianas têm sido acusadas de violações dos direitos humanos em sua repressão contra a insurgência islâmica e acusadas de crimes contra a Humanidade, segundo a organização Human Rights Watch. O Departamento de Estado dos Estados Unidos alertou o governo da Nigéria na quarta-feira (15/5), indicando que qualquer ação que desrespeite os direitos humanos durante a operação militar terá um impacto sobre as relações entre os dois países.

O Exército está empenhado em garantir que esta operação permita "libertar as zonas nas fronteiras da Nação dos terroristas". Mas alguns questionam se esta ofensiva será capaz de derrotar os insurgentes. As fronteiras entre a Nigéria e Camarões, e Chade e Níger são porosas, permitindo que criminosos e armas circulem livremente de um país para outro.

De acordo com especialistas, o Boko Haram, cada vez mais forte, pode conseguir escapar do cerco do Exército e encontrar outros refúgios nesta extensa região. Os ataques insurgentes e a repressão por parte das forças de segurança causaram cerca de 3.600 mortes desde 2009, de acordo com a Human Rights Watch.