Os ativistas da luta contra o câncer saudaram a decisão da atriz Angelina Jolie de tornar pública sua dupla mastectomia, esta terça-feira, mas advertiram que as mulheres não devem correr para fazer testes em busca de uma mutação genética que represente um risco para suas vidas.
"Não queremos que todo mundo diga ;quero fazer o teste;", afirmou o médico chefe da Sociedade Americana de Câncer, Otis Brawley, em entrevista por telefone à AFP.
"Queremos que as pessoas pensem em seu histórico familiar e falem com seu médico", que poderá encaminhá-las a um conselheiro genético para determinar a necessidade do teste, disse Brawley.
"As mulheres com familiares de primeiro grau - ou seja, uma irmã ou a mãe - que tenha sofrido câncer de mama ou de ovário em idade precoce deveriam especialmente ter esta conversa", afirmou.
No caso de Jolie, a mãe da atriz de 37 anos, ganhadora do Oscar e ativista da ONU, morreu de câncer de ovário aos 56 anos.
Em um artigo intitulado "Minha opção médica", publicado no jornal The New York Times, Jolie contou ter se submetido a testes genéticos que confirmaram que ela era portadora de uma mutação genética conhecida como BRCA1.
A BRCA1 costuma ser rara na população feminina, mas também é caro fazer exames para rastrear este tipo de gene.
No artigo, Jolie lamentou que o teste para detectar o BRCA1 assim como outro gene defeituoso que pode levar ao câncer, BRCA2, custe mais de 3.000 dólares nos Estados Unidos, "um obstáculo para muitas mulheres".
Um laboratório americano, o Myriad Genetics, é o único no país a oferecer este teste e trava uma polêmica batalha jurídica atualmente na Suprema Corte sobre os direitos de patente dos genes BRCA1 e BRCA2. Um parecer é aguardado para junho.
Embora o laboratório tenha se recusado a confirmar ou desmentir se foi o laboratório encarregado do teste feito em Jolie, as ações da Myriad Genetics subiram 4% esta terça-feira na bolsa eletrônica Nasdaq para 34,45 dólares, seu melhor nível desde meados de 2009, antes de recuar um pouco.
"Acreditamos firmemente que o uso apropriado de muitos dos nossos testes de diagnósticos poderia ajudar a reduzir as doenças, hospitalizações e intervenções caras e potencialmente baixar o custo do tratamento", informou a empresa, em um comunicado.
Outros laboratórios na Europa oferecem o mesmo teste, segundo a American Civil Liberties Union, que enfrenta a ação de patentes da Myriad Genetics na justiça.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, estima-se que 12% de todas as mulheres no país vão desenvolver câncer em algum momento da vida, embora a probabilidade seja 5 vezes maior para as poucas que têm a mutação BRCA1 e BRCA2, segundo informações divulgadas em seu site (www.cancer.gov).
As duas mutações podem ocorrer também em homens, aumentando o risco de desenvolverem câncer de mama, pâncreas, testículos e próstata.