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Colombiana, mexicana e mártires italianos, primeiros santos do papa

O sumo pontífice aproveitou a ocasião para lançar um firme chamado a favor da pacificação do México e da Colômbia

Cidade do Vaticano - O papa Francisco elevou neste domingo (12/5) à glória dos altares os primeiros santos de seu pontificado, ao canonizar em uma cerimônia solene na Praça de São Pedro duas freiras latino-americanas - a colombiana Laura Montoya e a mexicana María Guadalupe García Zavala - assim como 800 mártires italianos que se negaram a se converter ao islã no século XV.



O sumo pontífice aproveitou a ocasião para lançar um firme chamado a favor da pacificação do México e da Colômbia, contra o "aburguesamento do coração que nos paralisa" e contra as perseguições religiosas sofridas por católicos em todo o mundo.

Na homilia, sob um sol primaveril e diante de milhares de pessoas e de delegações presentes, em particular de Colômbia e México, o Papa convidou os fiéis a seguir o exemplo das novas santas, que dedicaram suas vidas aos pobres, aos doentes, aos marginalizados e aos indígenas.

[SAIBAMAIS]Diante da fachada da basílica estavam presos os enormes retratos das freiras latino-americanos e um tapete que representava os mártires italianos, liderados pelo humilde sapateiro Antonio Primaldo, todos cruelmente decapitados pelos muçulmanos e símbolo da igreja perseguida de todas as épocas, ao se recusarem a negar sua fé.

"Nós os incluímos no livro dos santos e estabelecemos que em toda a Igreja sejam devotamente honrados entre os santos", disse o Papa depois de pronunciar a tradicional fórmula em latim.

A freira colombiana Laura Montoya y Upegui (1874-1949) e a mexicana Guadalupe García Zavala (1878-1963) são dois exemplos de caridade que se opunham ao "aburguesamento do coração", disse o Papa improvisando.

"Não se deve ter vergonha, nem medo nem desgosto de tocar ;a carne de Cristo;", acrescentou Francisco, que relembrou a vida das duas religiosas.

Da primeira santa colombiana, considerada "a mãe espiritual dos indígenas", Francisco elogiou sua eficaz pedagogia, o respeito pela cultura indígena e o "fato de não ter se oposto a ela", como ocorria no início do século XX, quando os indígenas eram depreciados e discriminados.

A religiosa era "uma espécie de vanguarda da Igreja", explicou o Papa, que a apontou aos colombianos como exemplo de "harmonia e reconciliação" ao convidá-los com um firme chamado a seguir "trabalhando pela paz e pelo justo desenvolvimento" do país durante a oração dominical.

"Madre Laura nos deixa um legado muito oportuno, a reconciliação e seu permanente interesse pela justiça social. Sinto-me muito emocionado por ser o Presidente que participou deste importante dia para o país", disse à imprensa o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ao término da cerimônia.

Santos, empenhado há vários meses em um complexo diálogo de paz com a guerrilha marxista das Farc, será recebido na segunda-feira pelo papa Francisco para uma audiência privada no Palácio Apostólico.

Da religiosa mexicana, Santa Guadalupe García Zavala, o Papa disse que, "renunciando a uma vida confortável para seguir o chamado de Jesus, ensinava a amar a pobreza, para poder amar mais os pobres e os doentes".

"Madre Lupita se ajoelhava no chão do hospital diante dos doentes e os abandonados para servi-los com ternura e compaixão", afirmou Francisco, aplaudido por um grupo de mexicanos, entre eles várias freiras.

"Ela me fez um milagre", contou María Rosales Gómez, de Guadalajara, que quis a qualquer custo viajar para a canonização.

Francisco pediu que a segunda santa mexicana interceda para que o México "elimine qualquer violência e insegurança", gerando emoção entre os peregrinos que o assistiam.

A segunda santa mexicana, depois de María de Jesús Sacamentado, viveu a perseguição religiosa no México durante a chamada "Guerra Cristera" no século passado, que começou em 1911, mas que se intensificou entre 1926 e 1929.

A fundadora da Congregação das Servas de Santa Margarita María dos Pobres, inteiramente dedicada a curar os doentes particularmente necessitados, conta agora com 22 fundações no México, Peru, Grécia e Itália.

Curiosamente, a primeira canonização do pontificado do primeiro papa da América Latina e primeiro jesuíta foi para proclamar como santas duas religiosas desta região, cujo culto se estenderá, assim, a todo o mundo.

O Papa, que desde sua escolha, em março, quebra protocolos por seu estilo direto e simples, permaneceu mais de uma hora entre a multidão que se reuniu na esplanada para apertar mãos, acariciar bebês e deficientes físicos.

Dois meses após o início de seu pontificado, Francisco celebrou uma das cerimônias mais imponentes e emblemáticas para a Igreja.

Não se sabe se o pontífice jesuíta, que deseja uma igreja "dos pobres para os pobres", seguirá o caminho de um de seus antecessores mais populares, João Paulo II, considerado o maior fabricante de santos da história da Igreja ao ter canonizado 482 pessoas em 27 anos de papado.

Respeitando seu tradicional rigor, o papa emérito Bento XVI proclamou apenas 44 novos santos em quase oito anos na liderança da Igreja.

O caminho para se tornar santo é longo e complexo e não se exclui que Francisco santifique neste ano o carismático beato polonês João Paulo II, depois que uma multidão apelou em seu funeral para que ele fosse proclamado "santo súbito", imediatamente.