MONTEVIDEU - O Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu nesta segunda-feira (6/5) aos países latino-americanos para consolidar as margens de manobra fiscal e avançar em reformas estruturais para aumentar a produtividade e o crescimento potencial, em um relatório regional apresentado em Montevidéu.
No relatório "Perspectivas econômicas: As Américas", o organismo afirmou que os países da América Latina devem aproveitar as condições econômicas favoráveis atuais para construir uma base sólida para um crescimento sustentável futuro.
Segundo as projeções do organismo, o crescimento da América Latina e o Caribe irá de 3% em 2012 a 3,4% em 2013, respaldado por uma demanda externa mais forte, condições de financiamento favoráveis e os efeitos das políticas econômicas mais frouxas aplicadas anteriormente em alguns países da região.
O FMI sustenta que os riscos externos para as perspectivas a curto prazo se atenuaram, mas alerta que nos Estados Unidos o crescimento será afetado até o final de 2013, o que "teria um impacto negativo na região, particularmente no México e na América Central, que são mais ligados aos Estados Unidos através do comércio e as remessas".
Apesar dos riscos a médio prazo estarem "em queda", "a região seria particularmente afetada se uma desaceleração econômica abrupta na China ou em outras economias importantes desencadeasse uma queda dos preços das matérias primas", explicou.
Para o FMI, as prioridades de política econômica devem incluir a consolidação das margens de manobra fiscal, melhorar os marcos de política e avançar em reformas estruturais para aumentar a produtividade e o crescimento potencial.
A região deve "retomar o processo de consolidação fiscal que havia na América Latina antes da crise de 2008-2009", explicou na apresentação do relatório Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.
Segundo o relatório, seria necessário aplicar gradualmente uma política fiscal mais restritiva para reduzir os desequilíbrios fiscais e externos e garantir a sustentabilidade da dívida.
Werner alertou que "o crescimento das receitas que a América Latina teve com o aumento das negociações (na última década) já não vai se repetir".
Ele acrescentou que o crescimento dos últimos anos foi muito sustentado pelo uso mais intensivo dos fatores de produção que agora, com níveis de desemprego muito mais baixos, "o crescimento futuro terá que se sustentar mais no crescimento da produtividade e, portanto, em reformas estruturais".
A médio prazo, também há o risco de uma eventual alta das taxas de juros internacionais, que "vai gerar aumentos nos custos financeiros na região".
De toda a forma, "hoje não vemos níveis de déficit de conta corrente que sejam preocupantes", mas é preciso controlar a tendência "para não estar em níveis muito exagerados no futuro".
Segundo o FMI, para países como Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai, as prioridades deveriam ser fortalecer as finanças públicas e proteger a estabilidade do setor financeiro.
Por outro lado, Bolívia, Equador e Venezuela se beneficiariam com uma proporção muito maior das receitas derivadas das exportações de matérias primas.
Políticas argentinas e ineficiência
Em relação à Argentina, país ao qual o Fundo aplicou uma inédita censura em fevereiro, pedindo a reforma de suas estatísticas sobre inflação, Werner informou que estão "monitorando os avanços" na criação de um novo índice e acredita que esta "seja uma via para que sejam resolvidos os principais problemas".
"Acreditamos, através dos estudos que fizemos, com a experiência de muitos países, que a implantação de restrições ao comércio e taxas de câmbio duplas, geram ineficiências na economia e, portanto, afetam o processo de crescimento e criação de empregos", alertou.
"De acordo com os parâmetros estimados de muitos anos, com muitos países, acreditamos que isso vai ter um efeito negativo no desempenho econômico", argumentou em relação à Argentina, onde se desenvolveu um mercado do dólar paralelo e cujo governo aplica restrições ao comércio.
Werner considerou que uma eventual crise nesse país teria um efeito menor que no passado sobre seus vizinhos Uruguai e Brasil. "Não vemos uma contaminação regional tão grande como no passado".