Um engenheiro, que havia alertado para a fragilidade do imóvel antes do desabamento em 24 de abril foi interrogado pela polícia. Segundo o tenente Mir Rabbi, da sala de controle do Exército que coordena as operações de resgate, "o número total de mortos agora é de 511 pessoas".
Até a noite de quinta-feira o número de vítimas no desastre era de 441 pessoas mortas. Com a utilização de escavadeiras, as equipes de resgate temem encontrar outras dezenas de corpos sob as montanhas de escombros do Rana Plaza, um edifício de oito andares localizado em Savar, 30 km ao noroeste de Dacca, a capital.
Segundo os últimos registros, 2.437 pessoas conseguiram se salvar da catástrofe no edifício onde cerca de 3.000 empregados da indústria têxtil trabalhavam.
A espanhola Mango, a britânica Primark e a italiana Benetton estão entre as marcas ocidentais que confirmaram que alguns de seus produtos eram confeccionados no Rana Plaza, onde o salário mensal médio não passava de 30 euros.
Este trágico acidente é o último de uma longa série que atingiu esta indústria, pilar da economia do país. Em novembro do ano passado, um incêndio em uma fábrica têxtil perto de Dacca deixou 111 mortos.
Segundo testemunhas, o acidente de 24 de abril poderia ter sido evitado se os responsáveis pelas confecções não tivessem ignorado os alertas dos operários na véspera do desabamento apontando para fissuras nas paredes. Mas os donos exigiram que os trabalhadores voltassem ao trabalho.
Em entrevista concedida ao canal de televisão americano CNN, o primeiro-ministro de Bangladesh, Sheikh Hasina, defendeu o nível de segurança da indústria têxtil, ressaltando que a recente explosão em um complexo industrial americano no Texas mostra que nenhum país está isento de tragédias.
"Por todo o mundo, este tipo de acidente pode acontecer", declarou. Algumas marcas ocidentais já indicaram que vão analisar sua presença em Bangladesh. A Disney anunciou sua retirada completa do país.
O chefe de Governo insistiu que "Bangladesh é um local onde se pode investir em boas condições". Mas também sugeriu que os grupos ocidentais atraídos pela mão de obra barata de Bangladesh aumentem os salários pagos aos trabalhadores, acusando-os de responsabilidade direta no desastre.
"Se esses compradores querem fazer negócios, então devem pensar em aumentar o preço da confecção para que os negócios funcionem bem, para que a mão-de-obra tenha um bom salário. Portanto, são em parte responsáveis" pela situação dos trabalhadores, criticou. "Acredito que os investidores, quando vêm aqui, se beneficiam de uma mão de obra barata e, por esta razão, passam a produzir aqui".
Em relação à questão salarial, o papa Francisco denunciou o "trabalho escravo" dos operários em Bangladesh na quarta-feira, Dia do Trabalho. Segundo Mike Posner, professor de Direito Comercial e Direitos Humanos da universidade nova-iorquina Stern School of Business, a retirada dos grupos estrangeiros seria uma reação "míope".
"As reais soluções devem ser sistemáticas e se concentrar nas relações entre as multinacionais, os governos, os atores da sociedade civil e os proprietários das fábricas", considerou em um e-mail à AFP. Pelo menos 12 pessoas foram presas devido a este desastre, incluindo o proprietário do edifício Rana Plaza e o engenheiro civil, Abdur Razzaq Khan, que um dia antes do desabamento havia verificado as instalações e autorizado o prosseguimento dos trabalhos no local.
Segundo o jornal Jugantor, na noite antes da tragédia, ele considerou que a estrutura do prédio apresentava "riscos" e deveria ser analisada, mas autorizou o trabalho. Seu sobrinho disse não entender a sua prisão. "Não sabemos por que fizeram dele bode expiatório, nem por que o prenderam". Mas, de acordo com o subchefe da polícia de Dacca, A.B.M. Masud Hossain, os investigadores asseguram que Khan se opôs ao fechamento do Rana Plaza.