O choque dos chavistas era evidente: "Tínhamos que ter vencido por mais votos, isso quer dizer que muitas pessoas que estavam com Chávez não quiseram votar em Maduro ou votaram em Capriles. Será que as pessoas ainda não confiam em Maduro?", expressou à AFP Aurelio Mendoza, um funcionário público de 33 anos.
Os desafios
Após 14 anos de hiperliderança de Chávez, Maduro herda uma Venezuela, além de radicalmente dividida em duas, com uma economia totalmente dependente da renda petroleira e das importações, atingida pelo déficit público, pela inflação, pela escassez de produtos básicos e pela falta de divisas.
Atacar a insegurança, que se traduziu em 16.000 homicídios em 2012, a maior taxa da América do Sul, também será uma das prioridades do próximo governo. Diferentemente de Chávez, que evitava este tema, Maduro propôs em campanha acabar com a criminalidade.
"Para o país se recuperar deverá ser convocado um governo de unidade nacional, o país não pode progredir enquanto o governo tiver um apartheid político", disse à AFP o analista Hernán Castillo.
Para Avalos, o "grande esforço (...) é como voltar a ser um país, com seus conflitos e contradições, com mecanismos de negociação. Aqui ninguém fala com ninguém", lamentou.
Seguidores, e inclusive opositores, reconhecem que Chávez deu visibilidade aos pobres e impulsionou os programas sociais que diminuíram a pobreza de 50% há 14 anos para 29% atualmente, segundo números da Cepal. Os críticos lamentam, no entanto, que tenha criado uma exclusão política e utilizado estes programas para angariar votos.
Equilíbrio cívico-militar
As Forças Armadas, segundo os analistas, são importantes em meio a esta incerteza, dado o poder que têm na estrutura do governo - 11 de 23 governadores são militares.
"Refletem o que é o país, o que é a sociedade venezuelana. Estão divididos. Há uma luta entre os que estão tentando transformar as Forças Armadas no braço armado do Partido Socialista Unido da Venezuela e a outra parte que defende sua missão institucional", afirmou Castillo.
A manchete desta segunda-feira do jornal econômico El Mundo é uma mostra muito eloquente da situação vivida pelo país quarenta dias após a morte de Hugo Chávez: "Estabilidade do país passa por quartéis militares".