Ramallah - A renúncia do primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, põe em discussão a continuidade do apoio dos doadores aos territórios palestinos, em um momento em que as instituições internacionais ressaltam que o progresso na direção da criação de um Estado é reversível.
Fayyad apresentou sua renúncia na noite de sábado ao presidente palestino Mahmoud Abbas, que a aceitou, após um conflito aberto em torno da demissão em março do ministro das Finanças, Nabil Qassis.
Mas uma fonte oficial palestina indicou que as divergências tiveram início em setembro, quando a política fiscal de Fayyad começou a ser contestada, e as manifestações exigindo a sua saída, especialmente por líderes do Fatah, o movimento de Abbas, se agravaram.
"Tornou-se insustentável para Fayyad, especialmente quando líderes e gestores passaram a criticar as suas políticas e realizações constantemente", confirmou outra fonte oficial, sob condição de anonimato.
O primeiro-ministro apareceu em grande parte isolado em setembro, para enfrentar a agitação social na Cisjordânia.
[SAIBAMAIS]
Um descontentamento alimentado pelo aumento dos preços das commodities, sem flexibilidade fiscal devido à crise financeira vivida pela Autoridade causada pelas restrições de Israel e o não pagamento de uma ajuda prometida pelos Estados Unidos e países árabes.
Fayyad pode, contudo, sentir-se satisfeito por ter recuperado parte desta ajuda, já que os doadores se comprometeram em Bruxelas em março a aumentar o valor de suas contribuições.
Além disso, a recente visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, resultou na liberação de 500 milhões de dólares congelados pelo Congresso e na retomada da transferência israelense das taxas aduaneiras devidas à Autoridade Palestina.
Consequentemente, a Autoridade aprovou um orçamento 2013 assumindo 1,4 bilhão de dólares de "assistência internacional".
- Revés americano -
"Se a situação atual continuar, poderá minar a capacidade das instituições da Autoridade e colocar em perigo os ganhos obtidos no estabelecimento das instituições", expressou o Banco Mundial em seu relatório preparado para a reunião de doadores, revelando um déficit orçamental em 2012 de 1,7 bilhão de dólares.
"Se nada mudar, essas tendências poderão conduzir, finalmente, a um questionamento da legitimidade da Autoridade Palestina e prejudicar a sua capacidade de governar", alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo dos Estados Unidos, que segundo fontes oficiais palestinas interveio diretamente para tentar evitar a demissão de Fayyad, incluindo com um telefonema do secretário de Estado, John Kerry, a Abbas, pediu à liderança palestina para continuar no mesmo caminho.
Chamando Fayyad de "líder para a promoção do crescimento econômico, da criação do Estado e da segurança do povo palestino", a Casa Branca disse "contar com todos os líderes palestinos para apoiar estes esforços".
A renúncia de Fayyad é um revés para a diplomacia americana, que, por falta de progressos políticos durante a visita de Kerry esta semana, mal conseguiu um acordo com os líderes israelenses e palestinos para "promover o desenvolvimento econômica na Cisjordânia" ocupada.
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"Israel está relutante em promover medidas econômicas na Cisjordânia sem Fayyad no comando", escreveu neste domingo o correspondente diplomático do jornal israelense Haaretz.
De acordo com o cientista político palestino Abdelmajid Souilem, professor na Universidade Al-Quds, "a relação entre a Autoridade Palestina e a comunidade internacional não será afetada porque não se baseia em uma única pessoa".
"Mas os resultados da Autoridade sem Fayyad serão examinados com cuidado", advertiu.