"Tudo se politizou. Nós trabalhamos para todos da mesma forma, mas se detivermos alguém com uma camisa vermelha (cor que identifica o chavismo) nos acusam de sermos policiais opositores", afirma o oficial-chefe Martín García.
Há dois anos, o oficial Soto foi atingido com seis tiros em uma patrulha parecida com a desta noite. Graças ao seu santo e ao seu colete à prova de balas, Soto escapou. "Estou há 15 anos aqui e trabalhei com governos muito diferentes. Fui o mesmo policial com todos eles, mas isto é duro, porque o criminoso está mais bem armado do que nós, e aqui não há um só dia que seja tranquilo. Você sabe quando sai, mas não sabe se irá voltar", afirma.
[SAIBAMAIS]A patrulha noturna se detém para revistar um grupo de jovens alcoolizados que visivelmente apreciam pouco o trabalho da polícia "às ordens de Capriles". "Chávez, te juro, eu voto por Maduro", diz, provocador, um deles. "Os criminosos escondem as armas por ali", afirma o oficial García, apontando para uma ladeira. "Temos direito de portar apenas um revólver e nosso colete aguenta, no máximo, balas de calibre 3,57. Isso não vale nada contra eles, que têm os melhores fuzis de assalto", afirma.
Contar mortos em vez de evitá-los
A Venezuela registrou em 2012 mais de 16.000 homicídios, segundo números oficiais. Este saldo faz deste país um dos mais perigosos da América Latina, embora o governo venezuelano tenha investido somas milionárias para combater este drama, que se transformou na maior angústia dos cidadãos.
Segundo números oficiais, em 2012, 1,573 bilhão de bolívares (quase 250 milhões de dólares) foram investidos para fortalecer a Polícia Nacional Bolivariana. Conter a violência também é uma prioridade nos programas dos dois candidatos à Presidência da Venezuela.
De acordo com os números do governo em 2012, ocorreram no estado de Miranda 2.576 homicídios. "O estado de Miranda continua sendo o campeão em todo o mal", afirmou nos últimos dias o ministro do Interior e Justiça, Néstor Reverol. Dos 3.400 homicídios cometidos no primeiro trimestre do ano na Venezuela, 545 foram praticados em Miranda.
Guzmán nega-se a falar de política, mas gasta muito tempo rebatendo as estatísticas de violência do governo e lamenta não ter um contato direto com o governo para coordenar esforços. Evita apontar culpados pelo aumento da violência na Venezuela nos últimos 10 anos, mas concorda que o presidente Hugo Chávez "foi um fator" que não ajudou a reduzir os trágicos índices de assassinato.
"Eu perguntaria ao ministro Reverol como é possível que o Distrito Capital (que engloba boa parte de Caracas), uma superfície menor com menos habitantes e quase 3.000 agentes a mais do que em todo o estado de Miranda, tenha uma taxa de homicídios superior à nossa, segundo os dados oficiais", afirma Guzmán.
O comissário admite que a polícia de Miranda é prisioneira da luta política e está sendo asfixiada pouco a pouco, privada de material e de recursos financeiros. "Parece que a política não está perseguindo a segurança do povo, e sim a segurança do governo. E para constar, nós venezuelanos antes não éramos assim", conclui.