O paradeiro do presidente da República Centro-africana, François Bozizé, continua desconhecido na noite deste domingo, após a tomada pelos rebeldes da coalizão Seleka da capital Bangui depois de uma ofensiva relâmpago lançada para derrubar o presidente no poder há dez anos.
A França, ex-potência colonial, confirmou que o líder centro-africano partiu, sem indicar o seu destino. O presidente François Hollande "foi informado sobre a partida do presidente François Bozizé" do país, indicou o palácio presidencial.
Paris "faz um apelo a todas as partes para manter a calma e inciar um diálogo sobre a formação do governo" de união nacional, como acordado em 11 de janeiro em Libreville, segundo a mesma fonte.
"Os rebeldes controlam a cidade, apesar de ainda haver alguns disparos a torto e a direita", afirmou uma fonte da Força Multinacional da África Central (FOMAC) posicionada no país.
Antes, um dos chefes militares dos rebeldes, o coronel Djuma Narkoyo, anunciou a ocupação do palácio presidencial. "A República Centro-africana acaba de abrir uma nova página de sua história", comentou o rebeldes, depois da queda do palácio presidencial. "Bozizé não estava lá", afirmou, acrescentando que o chefe de Seleka, Michel Djotodia, fará um pronunciamento na rádio nacional.
O presidente, no poder desde 2003, não é visto desde que visitou, na sexta-feira, seu aliado sul-africano Jacob Zuma em Pretória. Chegado ao poder mediante as armas em 2003, Bozizé foi eleito presidente em 2005 e reeleito em 2011 em uma votação muito criticada pela oposição.
Uma fonte afirmou à AFP que o presidente abandonou o território nacional de helicóptero, mas não soube informar seu destino. O certo é que basta cruzar o rio Ubangui para chegar à cidade de Zongo, na vizinha República Democrática do Congo (RDC).
Em Kinshasa, o porta-voz do governo da RDC, Lambert Mendé, assegurou à AFP: "O presidente Bozizé não pediu para vir para a República Democrática do Congo". Sua família se refugiou em Zongo, dividindo-se entre um hotel e um convento, informou uma fonte da segurança de Kinshasa.
Em Brazzaville, o ministro das Relações Exteriores congolês Basile Ikouebe afirmou que "nem eu nem o presidente (Sassou Nguesso) fomos informados de sua chegada em território congolês".
Dispositivo militar francês reforçado
Além disso, segundo fontes francesas, cerca de 350 soldados franceses foram enviados para Bangui para garantir a proteção dos cidadãos franceses e estrangeiros na capital.
Os rebeldes estão se posicionando em toda a capital para lançar operações de segurança e evitar os saques, segundo um dos porta-vozes do Seleka, Eric Massi, em Paris.
Segundo várias testemunhas, pessoas armadas e alguns habitantes aproveitaram a situação para saquear comércios e casas.
Paris anunciou o "reforço" de seu dispositivo militar para assegurar a segurança dos franceses no local.
Os reforços das tropas francesas chegaram de Libreville (Gabão) e cerca de 250 outros já no país estão no aeroporto de Bangui para proteger os que tentam sair, segundo um diplomata francês.
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Na véspera os rebeldes da Seleka já haviam anunciado sua entrada na capital Bangui, pedindo às Forças Armadas Centro-africanas (Faca) para não combatê-los e exigindo que o presidente François Bozizé deixasse o poder.
Diante desta situação, a França pediu uma reunião de urgência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Cerca de 1.200 franceses vivem na Republica Centro-Africana.
O Comitê Internacional da Cruz-Vermelha (CICV) lançou neste domingo um apelo para poder enviar pessoal para Bangui, afirmando que muitos feridos estão procurando assistência em hospitais e centros médicos.
A coalizão Seleka pegou em armas em 10 de dezembro, acusando o poder de não respeitar vários acordos de paz assinados entre o governo e as várias rebeliões no país, especialmente o acordo de paz de Libreville de 2008.
Um acordo para superar a crise na República Centro-Africana, que incluía um cessar-fogo, a formação de um governo de unidade nacional e a manutenção do presidente foi assinado em 11 de janeiro.
Contudo, a rebelião anunciou na quarta-feira que voltaria a se armar devido ao desrespeito dos acordos por parte dos aliados de Bozizé.