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Guia supremo iraniano está disposto a dialogar pela primeira vez com EUA

O guia supremo tem a palavra final em todas as decisões sobre o programa nuclear do Irã

Teerã - O guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, mostrou-se nesta quinta-feira, pela primeira vez, disposto a aceitar a oferta de diálogo direto com os Estados Unidos para resolver a questão do programa nuclear do país, mas expressou pessimismo sobre as chances de um avanço.

O guia supremo tem a palavra final em todas as decisões sobre o programa nuclear do Irã, encarado com desconfiança pelo Ocidente, que suspeita que tenha como objetivo desenvolver uma arma nuclear sob a alegação de um programa civil.

"As autoridades americanas por diversas vezes ofereceram negociações diretas" durante reuniões com o chamado grupo 5%2b1 de grandes potências, disse Khamenei em uma transmissão ao vivo na rede de televisão estatal.

"Não estou otimista sobre estas negociações (diretas), mas também não me oponho a elas", disse Khamenei ao visitar a cidade sagrada de Mashhad, no nordeste do Irã, em ocasião do Ano Novo persa.

Os Estados Unidos - junto com Grã-Bretanha, China, França e Rússia, além da Alemanha - estiveram envolvidos em longas negociações do grupo 5%2b1 com o Irã.

A próxima rodada desses encontros está prevista para os dias 5 e 6 de abril na cidade cazaque de Almaty, depois que o Irã saudou a última rodada, em março, como uma guinada.

Uma autoridade americana, falando em Jerusalém, onde o presidente Barack Obama se encontra, disse que Washington está comprometido com o processo 5%2b1.

"Mas, neste contexto, estaríamos abertos a discussões bilaterais", acrescentou o alto funcionário.

Convocações anteriores feitas por Washington para um diálogo direto com Teerã foram rejeitadas por Khamenei. Os dois governos não possuem relações diplomáticas há mais de três décadas.

Khamenei não disse o que o levou a esta mudança de postura, mas minimizou as perspectivas de um avanço.

"Acreditamos que os americanos não estão interessados em um acordo nuclear", disse Khamenei, acrescentando que as autoridades americanas "irão apenas querer ditar usa própria agenda", sem ouvir as posições iranianas.

Se os Estados Unidos estão buscando uma solução, disse Khamenei, "os americanos devem reconhecer o direito do Irã ao enriquecimento e então agir para aliviar suas preocupações aplicando as regras da Agência Internacional de Energia Atômica".

A AIEA, a agência de energia atômica da ONU que monitora as atividades nucleares do Irã, lançou um alerta sobre ações relacionadas a armas nucleares no passado nesse país.

Essas alegações estão no centro das suspeitas do Ocidente em relação às intenções do Irã.

No entanto, a República Islâmica insiste que, para ela, a bomba atômica é "proibida pela religião" e considera que possui apenas um programa nuclear com fins pacíficos.

O Irã sofreu diversas rodadas de sanções da ONU devido a sua rejeição em suspender o enriquecimento de urânio, assim como sanções adicionais unilaterais impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia que têm como alvo suas receitas petrolíferas e o acesso ao sistema bancário global.

Os Estados Unidos e Israel - que acredita-se que tenha poder nuclear, embora não declarado - se recusaram a descartar um ataque militar contra o Irã para evitar que o país obtenha a bomba.

Diante disso, Khamenei renovou nesta quinta-feira uma ameaça de retaliação devastadora contra cidades israelenses se as instalações iranianas forem atacadas por Israel.

"De vez em quando, os líderes do regime sionista ameaçam o Irã com um ataque militar", disse Khamenei.

"Eles devem saber que, se cometerem um erro tão grave, a República Islâmica vai aniquilar Tel Aviv e Haifa", acrescentou.

Acredita-se que o Irã possua mísseis balísticos capazes de atingir Israel. O país também possui relações estreitas com os inimigos de Israel na região, incluindo o Hezbollah do Líbano e militantes palestinos na Faixa de Gaza.