Desde a fundação do PKK em 1984, Ocalan já havia apelado à paz quatro vezes, mas estas iniciativas foram rejeitadas por Ancara ou torpedeadas pelos setores mais intransigentes dos separatistas. O primeiro-ministro do governo islamita conservador turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou-se, no entanto, determinado a enfrentar os antagonismos, desafiando a oposição nacionalista turca que o acusa de traição.
[SAIBAMAIS]Os curdos, em sua grande maioria muçulmanos sunitas, ocupam um território de cerca de 500.000 km2, entre a Turquia, o Irã, o Iraque e a Síria. Seu número varia, segundo fontes turcas ou curdas, entre 25 milhões e 35 milhões. De 12 a 15 milhões vivem na Turquia, cerca de 5 milhões no Irã, 4,5 milhões no Iraque e dois milhões na Síria. Também há importantes comunidades curdas no Azerbaijão, Armênia, Líbano e na Europa, principalmente na Alemanha.
Os contatos entre as autoridades turcas e Ocalan se iniciaram no ano passado, depois de um aumento de atentados contra as forças de segurança. O pedido de paz de Ocalan foi lido ante milhares de pessoas congregadas em Diyarbakir por ocasião das celebrações do Ano Novo curdo, o Newroz.
A esplanada iluminada pela fogueira do Newroz também estava enfeitada com bandeiras com as cores curdas, vermelho, amarelo e verde. "Nós despertamos esta manhã em um ano realmente novo, no Newroz de uma nova era", escreveu em seu Twitter o deputado curdo Selehattin Demirtas.
"Acredito na paz", afirmou Ahmet Kaplan, um agricultor idoso, morador de uma aldeia próxima. "Tenho um filho nas montanhas [militando com o PKK] e outro no exército. Isso tem de acabar, não podemos deixar que as mães continuem chorando", acrescentou. O pedido para silenciar as armas também constitui uma prova da popularidade do fundador do PKK.
Um gigantesco cartaz pedia: "Uma solução democrática. Liberdade para Ocalan". E milhares de pessoas cantavam: "Na paz, como na guerra, estamos contigo, chefe" Ocalan afirmou que seu objetivo, com este acordo, é a "democratização de toda a Turquia".
O cessar das hostilidades deve levar a uma ampliação dos direitos constitucionais dos curdos e à libertação de milhares de pessoas detidas por seus vínculos com o PKK, uma organização catalogada como terrorista por Ancara e seus aliados ocidentais. Ocalan deve convocar a formação de comissões que garantam a passagem dos combatentes do PKK para o Iraque sem incidentes.
Como sinal de boa vontade, o PKK libertou na semana passada oito reféns turcos caturados há dois anos. Desde a chegada de Erdogan ao poder em 2002, a minoria curda obteve maior reconhecimento cultural e lingüístico.