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Dez anos após a guerra, Obama saúda soldados, mas se cala sobre iraquianos

"Nós honramos a memória dos cerca de 4.500 americanos que realizaram o último sacrifício para dar aos iraquianos a chance de definir seu próprio futuro após inúmeros difíceis anos"

Washington - Dez anos após o início da guerra no Iraque, Barack Obama saudou nesta terça-feira (19/3) o "sacrifício" dos soldados americanos, mas não se pronunciou sobre as vítimas civis e a decisão de seu predecessor George W. Bush de invadir o país.

"No momento em que se completa o décimo aniversário do início da guerra no Iraque, Michelle (sua esposa) e eu mesmo nos juntamos a nossos compatriotas americanos para saudar todos aqueles que serviram e se sacrificaram em uma das guerras mais longas de nosso país", afirmou o presidente americano em um comunicado.

"Nós honramos a memória dos cerca de 4.500 americanos que realizaram o último sacrifício para dar aos iraquianos a chance de definir seu próprio futuro após inúmeros difíceis anos", prosseguiu.


Obama havia pronunciado em outubro de 2002 em Chicago (Illinois, norte) um discurso contra os preparativos para a invasão do Iraque pela administração do presidente republicano George W. Bush, denunciando as "guerras idiotas" e as "guerras impulsivas".



Esse discurso contribuiu para a ascensão de Obama no cenário político nacional. Ele fez da retirada dos soldados americanos do Iraque uma de suas principais promessas de campanha nas eleições presidenciais de 2008.

Ele concluiu esse compromisso três anos após a sua eleição, quando as últimas unidades americanas deixaram o país em dezembro de 2011, de "cabeça erguida", assegurou nesta terça-feira.

"Os Estados Unidos continuam a trabalhar com seus parceiros iraquianos em favor de nossos interesses comuns de paz e segurança", indicou, no momento em que o Iraque continua mergulhado em uma violência quase cotidiana e em crises políticas profundas.

"Os historiadores vão avaliar"

O comunicado, entretanto, não fez referência ao início da guerra, justificada pela administração Bush pela existência de armas de destruição em massa - jamais encontradas - que estariam sendo estocadas pelo regime de Saddam Hussein.

Questionado sobre esta questão na coletiva de imprensa diária, o porta-voz da Casa Branca Jay Carney considerou "que os historiadores vão avaliar as decisões políticas tomadas pela administração" no poder.

"Livrar o mundo de Saddam Hussein era uma boa coisa para o mundo e para o Iraque, mas(...) o presidente, enquanto candidato, se opôs à decisão de invadir o Iraque. Ele se comprometeu a acabar com essa guerra da maneira mais responsável, e ele cumpriu esta promessa", acrescentou Carney.

Em seu comunicado o presidente Obama mencionou os "mais de 30.000 americanos feridos" durante as operações no Iraque, mas não fez sequer uma menção ao número de vítimas iraquianas, que ultrapassou amplamente 100.000 mortos apenas entre os civis, segundo ONGs.

Seu secretário de Defesa, Chuck Hagel, em um comunicado diferente, saudou todas as vítimas do conflito. "Também pensamos nos iraquianos, policiais e soldados que morreram ao nosso lado, os homens e mulheres vítimas das trocas de tiros, e aqueles que ainda hoje se esforçam para dar segurança e governar o país".

Já Donald Rumsfeld, que ocupava este cargo no Pentágono em 2003, se manifestou em sua conta no Twitter: "Há dez anos demos início à tarefa longa e difícil de libertar 25 milhões de iraquianos. Todos aqueles que tiveram um papel nessa história merecem nosso respeito e agradecimento".

Essa mensagem provocou uma onda de reações hostis. "Você é de uma audácia inacreditável", escreveu um internauta entre uma das manifestações mais moderadas.