[SAIBAMAIS] Lombardi expressou, em sua conversa com os mais de 5 mil jornalistas credenciados, que o colégio de cardeais, como um todo, havia decidido manter um ;crescente grau de reserva; e que os encontros pré-conclaves são parte de um processo solene na escolha do papa. Por isso, discursou, precisam de um ;clima de confidencialidade;. Jornais italianos especularam, porém, que a principal razão seria a declaração do arcebispo de Boston, cardeal Sean O;Malley, na terça-feira, abrindo a possibilidade de um atraso no início do processo de escolha para que os religiosos tenham mais tempo a fim de se preparar. A declaração teria desagradado os cardeais italianos. O Vaticano negou que tenham havido qualquer pressão. O camerlengo, que assumiu as funções administrativas da Santa Sé após a renúncia do papa Bento XVI, em 28 de fevereiro, também defendeu a discrição dos cardeais durante a Congregação Geral.
Mas, enquanto o Vaticano pregava prudência, os cardeais insistiam por mais informações sobre o escândalo que antecedeu a renúncia de Bento XVI. Eles aguardam detalhes de um relatório secreto sobre o casos de intrigas na alta cúpula do Vaticano, no que ficou conhecido como Vatileaks. Os religiosos aptos a votarem no conclave ; um total de 115 com menos de 80 anos ; querem saber mais sobre o que aguarda o futuro líder da Igreja Católica. Segundo o Vatican Insider, o cardeal brasileiro dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, adicionou seu nome à lista dos que gostariam de ter acesso aos dados. Nesse relatório, elaborado por três cardeais, estaria o principal motivo da histórica renúncia. Especula-se que ele esteja ligado aos escândalos envolvendo sacerdotes em denúncias de pedofilia.
Dias antes dos encontros em Roma, o cardeal Keith O;Brien, que renunciou ao cargo de arcebispo de Edimburgo, o mais alto no Reino Unido, disse que não iria ao conclave depois de admitir ;conduta imprópria; com seminaristas no passado. Uma das principais associações internacionais de vítimas de abusos de religiosos ; a Rede de Sobreviventes Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês) ; divulgou ontem, em Roma, uma lista questionando os nomes de outros 12 cardeais. Segundo a rede, eles não deveriam ser considerados candidatos a papa por não terem sido rigorosos o suficiente com os casos de pedofilia. Ao ser questionado sobre a lista, Lombardi não se prolongou. ;Não cabe à Snap dizer quem deve participar ou não. Os cardeais podem tomar suas decisões sem a necessidade de pedir conselhos à Snap.;
Debates saudáveis
Apesar de polêmico, o debate que ocorre em Roma às vésperas do conclave é saudável para o futuro da Igreja Católica, na avaliação do professor Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-São Paulo. Na opinião do especialista, o momento é de maior transparência quando se compara os pré-conclaves que elegeram João Paulo II e Bento XVI. No caso da pedofilia, por exemplo, os religiosos têm agora a chance de lidar com o problema e não se atrelar à antiga postura de tentar esconder ao máximo os escândalos. ;Neste momento, a Igreja pode se libertar de um monte de problemas existentes que o Vaticano não sabia como resolver;, avaliou ao Correio. ;Os cardeais, no (atual) conclave, se sentirão mais seguros de suas decisões, dos caminhos da Igreja do que se sentiam no passado. Eles sabem a gravidade dos problemas.;
O Vaticano aguarda, hoje, a chegada dos dois últimos arcebispos (Polônia e Vietnã) para completar o colégio de cardeais eleitores. Ontem, depois do encontro em Roma, os cardeais se reuniram para uma oração especial na Basílica de São Pedro.