Caracas - Venezuelanos críticos em relação ao falecido presidente Hugo Chávez recordaram nesta quarta-feira (6/3) com o pena o ódio e a divisão semeadas por ele durante seus 14 anos de governo, e manifestaram temor de que os chavistas no poder queiram transformá-lo num mártir ou num deus.
"Ódio e divisão foram as únicas coisas que ele semeou", afirmou José Mendoza, um programador informático de 28 anos que debatia em um café, a leste de Caracas, o legado do presidente que morreu na tarde de terça-feira, aos 58 anos, depois de batalhar por 20 meses contra o câncer.
Já Giuseppe Leone, um ítalo-venezuelano de 78 anos, confessou que, ao saber da morte do presidente, por uma questão de humanidade quase chorou. "Mas o que Chávez fez não tem palavras: ele arruinou a Venezuela", enfatizou.
As ruas do leste da capital, que abriga a maioria da classe média e alta da capital, estavam meio vazias nesta quarta-feira, ao mesmo tempo em que no centro e no oeste milhares de seguidores de Chávez acompanhavam seu caixão até a Academia Militar, onde ficará durante três dias a capela ardente com os restos do carismático líder.
"Ele pode ter feito muitas coisas sociais, mas poderia ter feito mais. Também causou muitos danos, porque não há instituições, não há justiça; ele maltratou tudo que discordava de seu governo", afirmou Sara, uma funcionária pública que preferiu não dar seu sobrenome.
[SAIBAMAIS]Apesar de considerar que os atos fúnebres e os sete dias de luto decretados pelo governo é algo normal para um presidente, Sara teme que isso faça com que Chávez seja transformado "numa coisa eterna" ou que façam dele "um deus, como fizeram com Che Guevara".
"Querem colocá-lo como mártir, um segundo libertador, isso me faz rir", comenta Mendoza. Antes de partir para Cuba para sua última operação, Chávez designou o vice-presidente Nicolás Maduro seu herdeiro e candidato governista nas eleições que serão convocadas em 30 dias. Segundo uma pesquisa recente, Maduro é favorito frente ao governador opositor do Estado Miranda (norte), Henrique Capriles, seu provável adversário.
Mas a morte de Chávez, que dominou a política venezuelana por quase três mandatos, não dá esperanças de mudança no governo, lamentam os opositores. "Se Maduro vencer, a debandada (para o exterior) será rápida. Seus discursos estão cheios de ódio, são coisas de uma pessoa ressentida", concluiu Sara.