Cairo - Um prédio da sede dos serviços de segurança estava em chamas esta segunda-feira (4/3) em Port Said, cidade do nordeste do Egito, onde há semanas ocorrem distúrbios e se registraram seis mortos, três deles policiais, durante confrontos ocorridos à noite. O incêndio, que começou no andar térreo da sede da segurança, lançava colunas de fumaça enquanto prosseguiam os distúrbios nas ruas que cercam o edifício, constatou um jornalista da AFP.
As tensões nesta cidade, vinculadas com o julgamento relacionado a enfrentamentos ocorridos depois de uma partida de futebol em 2012, se somam a um clima político e social difícil no país, especialmente no Cairo, onde novos incidentes ocorreram perto da praça Tahrir. Milhares de pessoas participaram esta segunda-feira dos funerais das três vítimas civis causadas pela violência durante a noite em Port Said. O cortejo gritou palavras de ordem hostis contra as autoridades e contra o presidente islamita, Mohamed Mursi.
Os confrontos explodiram no domingo, após a decisão do Ministério do Interior de deslocar 39 prisioneiros à espera de julgamento. O veredicto, aguardado para o próximo sábado, atinge o segundo grupo de acusados pelos distúrbios que deixaram 74 mortos após uma partida de futebol em Port Said em fevereiro de 2012.
Segundo o ministério do Interior, homens não identificados dispararam "aleatoriamente" a membros da polícia e o exército na cidade "com o propósito de criar agitação e divisões" entre os dois, depois de circular informações não confirmadas de que o exército teria disparado contra policiais.
Dois policiais morreram atingidos com disparos na cabeça e no pescoço e um terceiro acabou falecendo devido aos ferimentos sofridos na segunda-feira, informou o ministério do Interior. A cidade, situada no extremo norte do canal de Suez, vive há três semanas uma greve geral. No entanto, estes acontecimentos não perturbaram o tráfico de embarcações no canal, acrescentou o organismo encarregado de gerenciar este eixo que une o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, estratégico para o comércio mundial.
Em janeiro, 21 pessoas, em sua maioria torcedores, foram condenadas à pena de morte pelo caso, em um veredicto que provocou muitos atos de violência, que mataram pelo menos 40 pessoas. No domingo, manifestantes atiraram pedras e bombas incendiárias contra um posto policial em Port Said, cenário de uma greve geral que entra na terceira semana. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo. Os habitantes de Port Said e de outras cidades próximas ao canal de Suez alegam há muito tempo que são marginalizados pelo governo central.
Confrontos na capital
Também no Cairo, confrontos violentos entre policiais e manifestantes foram registrados durante a noite, perto da Praça Tahrir, no centro da capital. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que se aproximava de um hotel de luxo às margens do Nilo, uma região que costuma sofrer com atos de vandalismo à margem dos confrontos de fevereiro.
Na tarde de segunda-feira, dezenas de jovens voltaram a este setor e atiraram pedras em ônibus públicos, constatou um jornalista da AFP. Nos últimos meses vários atos de violência aconteceram no Egito, geralmente à margem de manifestações contra o presidente islamita Mohamed Mursi, eleito em junho, acusado por seus críticos de ter "traído a revolução" e de não saber enfrentar os problemas econômicos.
Durante uma visita no domingo ao Egito, o secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu com Mursi e pediu ao país mais esforços para acalmar a tensão política e ajustar a situação econômica. Ao norte do Cairo, a região do Delta do Nilo também foi cenário de violência, em meio a uma campanha de desobediência civil na província de Daqahliya. Uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas em confrontos no fim de semana entre a polícia e manifestantes em Mansura, a capital da província.