Estados Unidos - O soldado Bradley Manning revelou pela primeira vez nesta quinta-feira (28/2) os motivos que o levaram a realizar um dos maiores vazamentos de documentos da história dos Estados Unidos: gerar um debate público sobre o comportamento de seu país nas guerras do Iraque e do Afeganistão.
[SAIBAMAIS]Durante mais de uma hora, o ex-analista de inteligência de 25 anos leu uma declaração escrita na prisão, na qual explicou porque se tornou o "espião" do WikiLeaks, transmitindo entre novembro de 2009 e maio de 2010 ao site de Julian Assange documentos militares secretos sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão, bem como 260 mil despachos diplomáticos do Departamento de Estado.
"Pensava que a publicação (dos documentos) poderia provocar um debate público sobre nossa política externa e a guerra em geral", disse Manning à juíza Denise Lind, durante uma audiência preliminar ao seu processo em Fort Meade (Maryland, leste), que deve começar em junho.
Além disso, anunciou a intenção de se declarar culpado de 10 das 22 acusações que a Justiça militar americana lhe atribuem, embora se considere inocente das acusações mais graves, entre elas, "conluio com o inimigo", pela qual pode ser condenado à prisão perpétua.
Durante seu depoimento, Manning se descreveu como um soldado jovem, apaixonado pela geopolítica e pelas tecnologias da informação, que aos 20 anos entrou no exército para ter "uma experiência do mundo tal como é" e para conseguir uma bolsa universitária.
Mas, diante das realidades do conflito, afirmou ter se sentido enojado, pouco a pouco, de trabalhar em um exército que "não dava valor à vida humana".
"Sede de sangue"
"Quando mais tentava fazer corretamente o meu trabalho, mais me afastava dos meus colegas", afirmou.
O massacre de civis com um helicóptero no Iraque, em 2007, lhe demonstrou que nas forças armadas americanas havia uma "singular sede de sangue". "Éramos obcecados em capturar ou eliminar alvos humanos", afirmou.
Embora fosse um simples soldado raso, sua condição de analista de sistemas lhe permitia ter acesso a múltiplas bases de dados protegidas, assim como a milhares de funcionários do governo e do setor privado que trabalhavam para os militares.
Duas dessas bases eram as Sigacts, que compilam incidentes diários no Iraque e no Afeganistão e descrevem cada confronto armado com a participação de pessoal americano e explosões de minas artesanais.
Segundo Manning, os dados contidos nestas bases deixam de ser confidenciais dois ou três dias depois de cada incidente, em função de que se considera que a unidade militar que o protagonizou "não se encontra mais no local do fato ou não corre mais perigo".
"Para mim, estes documentos representam a verdadeira realidade da guerra no Iraque e no Afeganistão", afirmou, assegurando que embora fosse verdade que o vazamento poderia "incomodar" os Estados Unidos, não podia de forma alguma "prejudicá-lo".
"Só me interessei por aqueles documentos dos quais tinha total segurança de que não iam causar prejuízo" à segurança do país, alegou o jovem.
Manning assumiu, ainda, toda a responsabilidade pela difusão da documentação secreta e negou ter sido pressionado por alguém. "Eu tomei minhas próprias decisões", disse.