Roma - A situação política na Itália, onde a esquerda venceu as eleições gerais, mas sem conseguir a maioria absoluta nas duas Câmaras do Parlamento, indispensável para formar um governo, gera preocupação na Europa e disparou a tensão nos mercados. "Estamos conscientes do caráter dramático da situação e dos riscos que o país corre", declarou durante uma coletiva de imprensa em Roma o líder da esquerda, Pier Luigi Bersani.
Sua coalizão venceu com uma pequena margem nas duas câmaras, à frente da formação da direita de Silvio Berlusconi e do movimento antissistema do ex-comediante Beppe Grillo. Esta situação, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial, ameaça a governabilidade, já que a formação de um gabinete requer o apoio das duas câmaras. O primeiro-ministro Mario Monti, com seu partido centrista, foi o grande perdedor, chegando em quarto lugar.
A chave do próximo governo pode estar nas mãos do comediante convertido em líder antissistema Beppe Grillo, que canalizou com seu Movimento das 5 Estrelas o desencanto e a indignação dos jovens e desempregados neste país submetido a um plano de austeridade para superar a crise da dívida. Este é o pior cenário político possível para os mercados financeiros, o de um país ingovernável. O que volta a despertar os temores da crise e de um bloqueio.
Os mercado financeiros mundiais registraram nesta terça um dia negro, com as bolsas europeias sofrendo fortes quedas. A bolsa de Milão liderou a queda com 4,89%, seguida por Madri, em baixa de 3,2%, por Paris, que caiu 2,67%, Frankfurt, -2,27%, e Londres, que perdeu 1,34%. euro se estabilizou em relação ao dólar e o preço do petróleo caia 1,66 dólares em Londres, a 112,78 dólares o barril, e 0,76 centavos em Nova York, a 92,35 dólares.
A Itália também precisou pagar taxas de juros em considerável alta para a emissão de 8,75 bilhões de euros da dívida a seis meses. Se o impasse político se prolongar e os partidos não entrarem em um acordo sobre uma ampla coalizão, a probabilidade de que a Itália necessite de um resgate aumentará, advertem os analistas.
Silvio Berlusconi não excluiu um acordo com o Partido Democrata (PD) de Bersani, mas deixou claro que é contra "um acordo com Monti", o tecnocrata que assumiu a Itália deixada por Berlusconi com uma dívida de mais de 2 trilhões de euros. Beppe Grillo, por sua vez, afirmou que seu Movimento 5 Estrelas (M5S) não irá se aliar com nenhuma outra formação. "Bersani e Berlusconi ficaram 25 anos, levaram o país à catástrofe, eles são o problema", declarou.
Preocupação europeia
A inquietação dos sócios da Itália não demorou a aparecer. A União Europeia (EU) reagiu à mensagem de preocupação enviada pelos italianos nas eleições, mas espera que a "Itália cumpra com os seus compromissos". "A Itália assumiu compromissos com a Comissão e outros Estados-membros, entre eles a redução do déficit, a redução da dívida e reformas estruturais", alertou o porta-voz comunitário, Olivier Bailly.
O ministro das Relações Exteriores do governo conservador alemão, Guido Westerwelle, convocou nesta terça-feira a Itália a se dotar rapidamente de um governo estável, para prosseguir com a política de reformas "pelo bem de toda a Europa". Mas o ministro da Recuperação Industrial do governo socialista francês, Arnaud Montebourg, opinou que os italianos "disseram que não estavam de acordo com a política imposta pelos mercados".
O ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, admitiu, por sua vez, que a situação da Itália tem um impacto inegável nos mercados, e torce para que esta seja de curta duração. "É evidente que o país atravessa uma situação muito delicada", declarou Bersani, assegurando que o resultado "será administrado levando-se em conta os interesses da Itália".
"Votamos o Parlamento mais ingovernável de nossa história", resumiu o jornal La Stampa ao analisar os resultados das eleições, realizadas no domingo e na segunda-feira. "O país com mais necessidade de estabilidade não terá um governo estável por alguns meses", comentou James Waltson, professor de relações internacionais na American University de Roma.