Moscou - O governo do presidente sírio Bashar al-Assad está disposto a dialogar com todas as partes, incluindo os grupos armados, afirmou nesta segunda-feira (25/2) em Moscou, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid al-Muallen, primeiro dirigente do país a expressar tal proposta aos insurgentes. "Estamos dispostos ao diálogo com todos os que desejam o diálogo, incluindo os grupos armados", disse Muallem após uma reunião com o colega russo Serguei Lavrov.
"Nós continuamos sendo partidários de uma solução pacífica ao problema sírio", afirmou Muallem, em referência à criação de uma coalizão pacífica que negociaria tanto com "a oposição externa quanto com a interna".
[SAIBAMAIS]"Não existe uma alternativa aceitável a uma solução política obtida por meio de acordos sobre as posições do governo e da oposição", afirmou Lavrov. "Nós somos partidários de uma Síria independente, unida, e de que todos os cidadãos sírios, independentemente de sua religião, vivam livremente em paz e democracia", completou o chanceler russo. "O povo sírio deveria decidir seu destino sem uma intervenção externa", completou Lavrov.
O ministro russo afirmou que a situação na Síria está em um "encruzilhada", mas expressou otimismo sobre a possibilidade de uma solução negociada. "Há aqueles que embarcaram em um rumo de mais derramamento de sangue que poderiam provocar a queda do Estado e da sociedade", advertiu Lavrov.
Os combates - que de acordo com a ONU provocaram 70.000 mortes desde o início das revoltas que viraram um conflito armado, em março de 2011 - aumentaram nos últimos dias, enquanto os beligerantes tentam obter uma vantagem militar.
A Rússia, importante aliada de Damasco, vetou ao lado da China todos os projetos de resolução do Conselho de Segurança da ONU para condenar o regime de Bashar al-Assad. Moscou, que também fornece armas ao regime sírio, convidou, no entanto, o presidente da coalizão da oposição síria, Moaz al-Khatib, que pode viajar à capital russa no início de março.
Mas a oposição síria anunciou no sábado a suspensão de vários encontros no exterior para denunciar o "silêncio internacional sobre os crimes" cometidos pelo regime, um dia depois de um violento ataque com mísseis contra a cidade de Aleppo.
Ahmed Moaz al-Khatib pediu no sábado aos governos do mundo que iniciem uma ação concreta para acabar com o banho de sangue na Síria.
Já o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu nesta segunda-feira (25/2) à coalizão opositora síria que participe no dia 28 de fevereiro em Roma da próxima reunião do fórum de Amigos do Povo Sírio. "Convoco a oposição síria a se unir a nós por razões práticas, para nos informar", declarou John Kerry em uma coletiva de imprensa junto ao ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, por sua vez, criticou nesta segunda-feira em Genebra o fracasso do Conselho de Segurança em levar ao Tribunal Penal Internacional o caso sírio. O presidente da Assembleia Geral da ONU denunciou a "carnificina" que acontece na Síria.
Mais de 50 soldados e rebeldes mortos em 24h
Ao menos 30 soldados e 23 rebeldes foram mortos em 24 horas de combates em uma cidade na província de Aleppo, no norte da Síria, onde os rebeldes derrubaram um helicóptero do exército, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
A maioria das vítimas morreu nos arredores da academia de polícia de Khan al-Assal, um dos últimos bastiões leais ao regime no oeste da província e palco de violentos confrontos há vários dias, de acordo com a organização.
O jornal al-Watan, próximo ao regime, afirmou nesta segunda que "os membros da academia de polícia realizaram pelo segundo dia consecutivo ataques intensivos" contra "homens armados que sofreram consideráveis perdas".
Ao norte de Aleppo, "um helicóptero foi visto caindo em chamas depois de ser atingido perto do aeroporto militar de Mingh", anunciou o OSDH.
Os rebeldes cercam a base de Mingh há meses e atacam o local com foguetes, como parte de uma campanha para assumir o controle dos aeroportos.
Os rebeldes já expulsaram as forças do regime de grandes áreas nas províncias de Aleppo, Idleb (noroeste), Raqqa (norte), Hasaka (nordeste), mas permanecem sob a ameaça de bombardeios da aviação do regime ou de mísseis.
Nesta segunda-feira (25/2), aviões bombardearam aldeias de Jabal Zawiya, na província de Idleb, causando pelo menos cinco mortes, e os subúrbios sul e leste de Damasco, matando um adulto e uma criança, relatou o OSDH. Na capital, as tropas leais ao regime bombardearam Jobar, um reduto da oposição.
O jornal Al-Watan também anunciou que morteiros caíram no domingo "em igrejas de Damasco".
No último domingo (24/2), a violência causou a morte de pelo menos 141 pessoas, incluindo 61 civis, em todo o país, de acordo com o OSDH.