S;o Paulo - A blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez criticou nesta quinta-feira (21/2), em São Paulo, o silêncio do Brasil sobre a questão dos direitos humanos em Cuba e pediu mais firmeza ao governo de Brasília.
Sánchez pediu uma posição mais energética do governo brasileiro, que estreitou vínculos com Havana durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e sua sucessora Dilma Rousseff. "Faltou dureza ou franqueza no tema dos Direitos Humanos na ilha. No caso do governo do Brasil, houve silêncio demais", enfatizou, durante um encontro com a imprensa.
[SAIBAMAIS]Filóloga de 37 anos conhecida por seu blog dissidente "Generación Y", Sánchez chegou na segunda-feira ao Brasil para uma visita de uma semana, a primeira escala de uma viagem de três meses por vários países da América e Europa.
"Esta viagem é uma mudança de vida para mim, apesar de que Cuba, creio, vá precisar de muito mais que a viagem de uma única pessoa. Viva Cuba livre", afirmou, em declarações à AFP.
No Brasil, a cubana foi recebida por muitos admiradores, mas também por manifestantes pró-Cuba, que a classificaram de "mercenária" e "agente da CIA". "Esperava um pouco de rejeição, mas não com tanta virulência. Eu esperava que as manifestações iriam ser um pouco mais respeitosas", explicou, referindo-se aos protestos ocorridos na cidade de Feira de Santana, na Bahia. "Nasci num país onde não se pode questionar um homem, por isso gosto que se possa questionar a todos, inclusive a mim", acrescentou.
Sánchez conseguiu permissão para viajar graças a uma reforma migratória em vigor desde janeiro, depois de vinte tentativas em que as autoridades a impediram de deixar a ilha.
Venezuela, Chávez e os cinco agentes cubanos
"Sempre tenho esse dilema em relação ao subsídio venezuelano", respondeu, ao ser consultada sobre as vantajosas condições com que a Venezuela do presidente Hugo Chávez, um aliado-chave de Cuba, envia petróleo para a ilha.
"Não gosto de ter cortes elétricos ou transporte parado por falta de combustível, mas sei muito bem que esse fôlego que o palácio de Miraflores em Caracas dá para a Praça da Revolução se constitui num prolongamento de vida de um sistema que tinha seus dias contados", comentou.
Sánchez afirmou que o governo cubano está preocupado com a possível saída da cena política de Hugo Chávez, e que por isso tenta tímidas aproximação entre Cuba e os Estados Unidos.
A blogueira insistiu em sua postura sobre o fim do embargo dos Estados Unidos contra Cuba: "É o grande argumento que o governo cubano tem para explicar tudo. Eu queria ver em quem vão botar a culpa sem o embargo". "O problema não é o embargo, é que Cuba não tem dinheiro para comprar nada", acrescentou.
A blogueira afirmou que suas declarações que geraram polêmica sobre os cinco agentes cubanos detidos nos Estados Unidos e condenados a longas penas de prisão por espionagem foram uma ironia.
Sánchez disse na última quarta-feira (20/2) que os agentes deveriam ser libertados para evitar que o governo cubano continue gastando muito dinheiro nesta campanha. Nesta quinta, esclareceu, no entanto, que jamais pediria sua libertação porque "são espiões e assim foram julgados".
Depois de sua primeira escala na Bahia, Sánchez viajou na quarta-feira (20/2) para Brasília, onde visitou o Congresso Nacional a convite da oposição. Nesta quinta-feira (21/2) , relançará seu livro "De Cuba, com carinho" em uma livraria em São Paulo. Depois irá para Argentina, México, Espanha, República Tcheca, Itália, Polônia, Holanda e Estados Unidos. Sánchez afirma que sua viagem é financiada por doações.