Paris - Uma parte do muro de Berlim grafitada pelo artista brasileiro Nunca é a atração de um leilão nesta segunda-feira (18/2) no Palácio de Tóquio, em Paris. O evento faz parte de uma ação beneficente em prol da associação SOS Racismo, que homenageia o Brasil.
Nunca, que começou a fazer grafites nas ruas de São Paulo aos 12 anos, é dono de um estilo pessoal inspirado nas tradições indígenas do país. Em 2011, ele foi convidado a pintar duas seções do muro de Berlim. O artista escolheu representar um gigantesco punho que quebra o muro em vários pedaços.
Com 3,50 metros de altura, a obra, muito pesada, ficou na Alemanha. Ela está avaliada em 250.000 a 350.000 euros pela casa de leilões Pierre Bergé & Associados, que organiza o evento com o arquiteto Alain-Dominique Gallizia, expert e colecionador de grafites. O leilão apresenta mais de 60 artistas grafiteiros da França e dos Estados Unidos (Ash, Bando, Bruce, CES, Faust, Revolt, Sonic, Spirit, Taki 183...) mas também do Brasil, convidado de honra da edição de 2013 desta venda.
"Há uma identidade brasileira no grafite", declarou o artista Speto, 41 anos, um dos pioneiros da arte urbana no Brasil. Nascido em São Paulo, jovem skatista, ele começou a transformar as paredes da cidade aos 14 anos. "A gente não tinha informação sobre o que acontecia fora e isso foi muito bom porque pudemos desenvolver nosso próprio estilo", explica o artista, que ficou mais conhecido após fazer uma participação na novela Cheias de Charme.
"Nós somos rebeldes do bem, temos bons objetivos", falou. "Minha paixão é me comunicar com os outros através da arte. Uma obra na rua é destinada a todo mundo, não importando a cor da pele, a classe social ou o nível de escolaridade".
Speto desenvolveu uma arte simples, "na;f", inspirada na xilografia - técnica de gravura na madeira. Para o leilão, ele propôs um "Pequeno Buda em Londres", que chora diante da triste realidade do mundo. A pintura, spray sobre tela, está avaliada entre 6 mil e 8 mil euros.
Tihno também é um antigo skatista de São Paulo. Nascido no Brasil, filho de pai japonês, Walter Tada "Tihno" Nomura começou a grafitar em 1986 aos 13 anos. Ele desenhou camisetas e logomarcas para produtos de skate. Ele estudou, virou professor de artes e suas obras são cada vez mais reconhecidas. Ele apresenta ao leilão uma grande pintura "How it would be tomorrow", avaliada entre 5 mil e 7 mil euros.
A arte de Herbert Baglione, também paulistano, é inspirada na caligrafia. Ele utiliza branco e preto para desenvolver obras poéticas e vibrantes. A tela "Silver Piece", feita em spray e em tinta acrílica, foi avaliada entre 12 mil e 16 mil euros. Para Alain-Dominique Gallizia, "o grafite sobre tela que existe há 40 anos não é muito mostrado ao público". "Ele ainda não é exibido nos grandes salões de arte contemporânea", garante o arquiteto que gostaria de vê-lo "entrar nos museus".
O colecionador tem pouco mais de 400 obras de grafiteiros sobre tela, algumas expostas no seu atelier em Boulogne-sur-Seine, cidade nos arredores de Paris. Para este leilão beneficente, nenhuma taxa será cobrada do comprador. Três quartos do lucro das vendas serão revertidos para a SOS Racismo, e um quarto irá para os artistas.
O leilão acontece nesta segunda-feira (18/2), em Paris, a partir das 19h30, no Palácio de Tóquio.