Lisboa ; A recessão e o desemprego fizeram os políticos elevarem o tom da cobrança de ações adequadas e as acusações ao governo no debate que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho participa quinzenalmente na Assembleia da República Portuguesa.
;Este governo é um absoluto fracasso;, disse Heloísa Apolónia, líder do Partido Ecologista, durante a sabatina do chefe de Governo. Para o deputado João Semedo, do Bloco de Esquerda, ;se nada for feito, em breve mais de 1 milhão de pessoas engrossarão as fileiras da pobreza;. O secretário-geral do Partido Comunista, Jerónimo de Sousa, lamentou: ;entre os muitos cortes que o governo tem feito está o corte da esperança;.
O Partido Socialista foi mais duro. O deputado António Seguro acusou o primeiro-ministro de ;despreparo;, ;incompetência; e ;inconsciência;. Ele provocou: ;O que o senhor está a fazer aí?;; ;a maior tragédia desse país é o seu primeiro-ministro;, disse e destacou: ;O senhor não tem soluções para resolver o desemprego e nem a espiral recessiva;.
[SAIBAMAIS]O primeiro-ministro, Passos Coelho, reagiu cobrando propostas alternativas e apontando números da dívida pública no governo anterior. Ele disse que está resolvendo problemas estruturais da economia portuguesa. ;O que marca a sensibilidade social do governo é a disposição em mudar a estrutura;, disse.
O primeiro-ministro chegou a ser interrompido por cerca de 30 manifestantes do movimento Que se Lixe a Troika! que, da galeria da Assembleia da República, entoou de pé a canção Grândola, Vila Morena. A música foi banida pelo regime do Estado Novo português e associada à Revolução dos Cravos, de 1974. ;De todas as formas que uma sessão possa ser interrompida, essa me parece de mais bom gosto;, reagiu Passos Coelho em tom amistoso.
Nos próximos dias, Portugal viverá várias manifestações contra a política econômica. Amanhã, sábado, a Confederação Geral dos Trabalhadores promove protestos em 20 cidades. No dia 2 de março, haverá manifestações contra o governo, inclusive nos Estados Unidos e em frente à Embaixada de Portugal em Londres.
Hoje o Instituto Nacional de Estatística divulgou mais um indicador que ilustra a situação de recessão e poderá engrossar os protestos em Portugal. O Índice de Custo do Trabalho - formando pelo valor dos salários e gastos com seguridade social - caiu 14,9% nos últimos três meses de 2012.