Cidade do Vaticano - O Instituto para as Obras de Religião (IOR), o nome oficial do Banco do Vaticano, é o templo financeiro da Santa Sé, uma instituição opaca que foi envolvida ao longo de sua história em vários escândalos, incluindo suspeitas de lavagem de dinheiro e conexões com os serviços secretos, com a máfia e até mesmo com as lojas maçônicas.
A nomeação nesta sexta-feira (15/2) do novo presidente, o alemão Ernst von Freyberg, a menos de duas semanas da renúncia definitiva do papa Bento XVI, volta a colocar a entidade no centro da atualidade mundial. Fundado em 1942 pelo papa Pio XII, o IOR administra as contas de ordens religiosas e de outras associações católicas. Nos anos 1980, foi dirigido pelo controverso arcebispo americano Paul Marcinkus, muito próximo a João Paulo II.
Durante sua presidência, explodiu um dos maiores escândalos da história da Itália e do Vaticano. O diretor do Banco Ambrosiano, cujo principal acionista era o IOR, apareceu misteriosamente enforcado em 1986 em uma ponte de Londres chamada de Blackfriars ("Frades Negros"). O caso levou à tona as relações ocultas entre o Vaticano, a loja maçônica P2, Licio Gelli e a máfia siciliana.
[SAIBAMAIS]No ano passado, o IOR voltou ao olho do furacão quando as autoridades italianas colocaram os holofotes sobre sua gestão. Seu presidente, o italiano Ettore Gotti Tedeschi, simpatizante do Opus Dei e que durante anos foi o responsável máximo do banco espanhol Santander na Itália, foi destituído de forma fulminante em maio de 2012 por má gestão.
"Não é correto atribuir a Bento XVI o escândalo do banco, como ocorreu na época de João Paulo II, porque este Papa começou a mudar as regras da gestão financeira da Santa Sé", explicou na época o vaticanista Iacopo Scaramuzzi. Em 2010, Bento XVI criou uma Autoridade Financeira para lutar contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo através das contas do Vaticano.
Em julho do ano passado, no relatório Moneyval, um grupo de especialistas do Conselho da Europa ressaltou "os passos positivos em pouco tempo", mas disse que "ainda há muito trabalho a ser feito". Pouco depois, quando ocorreu no caso "Vatileaks" o vazamento à imprensa de documentos confidenciais do Papa, o IOR abriu suas portas à imprensa para tentar convencê-la de que financia apenas obras de caridade.
O Banco anunciou então novas normas de transparência, entre elas o desaparecimento de contas numeradas, condições mais rígidas para abrir uma conta individual, o fim das relações com bancos "off-shore" ou a obrigação de apontar as operações suspeitas à Autoridade de Informação Financeira criada em 2010.
O IOR tem 112 empregados e dispõe de fundos no valor de 5 bilhões de euros divididos em 34 mil contas de cerca de 25 mil entidades diferentes. Cerca de 77% de seus clientes vêm da Europa e 7% do Vaticano. O IOR está sob a supervisão de uma comissão de cardeais e só contrata católicos praticantes.