A notícia tem poucos precedentes na história recente da Igreja Católica. "Os convoquei a este Consistório não apenas para as três causas de canonização, mas também para comunicá-los uma decisão de grande importância para a vida da Igreja", anunciou o papa em latim. "Depois de ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino" admitiu.
Segundo o porta-voz do pontífice, o padre Federico Lombardi, um conclave acontecerá por volta da Semana Santa (24 de março a 1 de abril). "Para a Páscoa teremos um novo papa", disse, depois de explicar que Bento XVI não participará do Conclave para a eleição do novo pontífice. O conclave deve acontecer 15 a 20 dias depois da efetivação da renúncia.
Renúncia
Há seis séculos um papa não renunciava ao pontificado. No século XIII, em 1294, Celestino V abandonou de forma voluntária o cargo ao não se sentir preparado para a função. Antes de ser designado papa, Celestino V havia vivido como um ermitão e não se sentia preparado para assumir o comando da Igreja. Em 1415, Gregório XII decidiu renunciar em um contexto completamente diferente do atual, na época do grande cisma do Ocidente, quando a Igreja tinha três papas que disputavam o comando.
A decisão histórica do papa abriu também as apostas sobre seu sucessor e vários nomes começaram a aparecer com força, como por exemplo, o cardeal de Gana Peter Turkson, o cardeal italiano Angelo Scola ou o canadense Marc Ouellet, além de vários representantes da igreja latino-americana.
Bento XVI, que em um livro entrevistas publicado em 2010 havia reconhecido que renunciaria em caso de incapacidade física ou mental, deve seguir em um primeiro momento para a residência de verão de Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma, para depois se mudar a um mosteiro dentro dos muros da Cidade do Vaticano.
A chanceler de sua Alemanha natal, Angela Merkel, expressou seu "grande respeito" pela decisão do papa de renunciar em função de sua idade avançada. "Se o próprio papa, depois de muita reflexão, chegou à conclusão de que suas forças não são suficientes para exercer sua função, isso é motivo de meu maior respeito", afirmou.
[SAIBAMAIS]O novo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder espiritual dos anglicanos, declarou estar com o "coração pesado" pelo anúncio da renuncia, mas que compreendia "totalmente" esta decisão. Já o Grande Rabino asquenaze de Israel, Yona Metzger, afirmou que Bento XVI melhorou as relações entre o cristianismo e o judaísmo e contribuiu para "uma diminuição dos atos antissemitas no mundo".
O porta-voz do Vaticano reconheceu que a renúncia pegou todos de surpresa. A decisão "foi meditada e tomada com total liberdade", afirmou Lombardi. Segundo o porta-voz, "ninguém sugeriu, nem obrigou a fazê-lo". "O papa sentiu suas forças diminuindo nos últimos meses e teve a lucidez de reconhecer", completou.
História
Joseph Ratzinger, prestigioso teólogo alemão que adotou o nome de Bento XVI depois de assumir o papado em 2005 em substituição do carismático João Paulo II, havia presidido por quase 25 anos, a partir de 1981, a célebre Congregação para a Doutrina da Fé, antigamente chamada de Santo Ofício da Inquisição.
No trono de São Pedro, tem sido um férreo defensor da ortodoxia católica e um tradicionalista que tentou reconciliar o mundo da fé e da razão em uma Igreja confrontada com vários escândalos, como o da pedofilia. Recusou em particular qualquer modificação das posturas tradicionais da Igreja em termos de aborto, eutanásia, divórcio ou homossexualismo, mas admitiu o uso do preservativo, em casos específicos, para evitar a propagação da Aids.