O Fundo Monetário Internacional censurou a Argentina nesta sexta-feira por falhas na divulgação de dados econômicos precisos, pela primeira vez na história.
O Conselho Executivo do FMI entendeu que os esforços da Argentina para cumprir as demandas do FMI para melhores dados do PIB e da inflação não foram suficientes. Como resultado, o Fundo emitiu uma declaração de censura contra a Argentina.
O Fundo exige a Argentina que reformule suas estatísticas de inflação ou do Produto Interior Bruto para adequá-las a padrões internacionais, enquanto Buenos Aires afirma que não há nenhum problema com esses dados oficiais, que são questionados no país por analistas privados.
A decisão de censura abriu caminho para a possibilidade de que a Argentina perca seu direito à voto no FMI ou até que seja obrigada a deixar o Fundo.
Contudo, o Conselho Executivo adiou esta decisão, dando a Buenos Aires mais oito meses para resolver o problema, antes que o FMI adote novas ações.
"O Fundo está pronto para continuar o diálogo com as autoridades argentinas para melhorar a qualidade" dos dados oficiais, disse o Conselho em um comunicado.
"E, de forma geral, para fortalecer as relações entre a Argentina e o Fundo", acrescentou.
A Argentina rejeita desde 2006, quando saldou suas contas com o Fundo, a se submeter a qualquer avaliação da entidade, apesar de ter aceitado uma missão técnica para ajudar a confeccionar um índice nacional de inflação.
Essas recomendações não foram aplicadas e o Fundo deu três meses de prazo, em setembro, ao país sul-americano para responder a suas demandas.
Em dezembro a diretoria do Fundo deu mais dois meses, que vencem nesta sexta-feira.
Fontes dentro e fora do Fundo destacam a particularidade do caso: nunca um país membro da entidade foi sancionado por não ter suas estatísticas em ordem.
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Contudo, essas fontes, sob anonimato, acrescentam também que o procedimento tem várias etapas e que uma possível suspensão e até expulsão da Argentina ainda está razoavelmente longe.
Os estatutos do Fundo descrevem um procedimento relativamente longo e que dá amplo poder à diretora gerente, Christine Lagarde, de ir informando os 24 membros das negociações com a Argentina.
Entre os atuais membros da diretoria, que representam países ou grupos de países, estão Venezuela, Brasil e Chile.
A Argentina acusa o FMI de ser um dos causadores de sua crise financeira de 2001, que acabou com um default de sua dívida externa. O governo de Cristina Kirchner promove uma mudança profunda das cotas de poder dentro do organismo multilateral e é uma das vozes mais críticas dentro do G20 (grupo de países desenvolvidos e emergentes) ao atual sistema no FMI.
O Fundo está tomando medidas para fazer frente aos países que não aceitam suas missões de avaliação econômica, que logo desembocam no que se conhece como relatórios do Artigo IV.
O FMI decidiu no ano passado que informaria dos encontros da diretoria para avaliar um país que não aceita as missões do Artigo IV.
Esse foi o caso do Equador, em novembro, e da Argentina, esta semana. A diretoria anunciou em ambos os casos uma reunião "informal" para examinar suas respectivas situações econômicas "a partir da informação disponível".