Damasco - O chefe da coalizão opositora síria surpreendeu nesta quarta-feira (30/1) ao se declarar disposto a negociar, sob condições, com representantes do regime. Em um texto publicado em sua página do Facebook, Ahmed Moaz al-Jatib afirmou que "em sinal de boa vontade", estava "disposto a negociações diretas com representantes do regime sírio no Cairo, na Tunísia ou em Istambul", suscitando críticas de uma parte da oposição.
[SAIBAMAIS]Jalib disse ter tomado esta decisão porque "a revolução continua e já não se trata de tentar ganhar tempo quando cidadãos sírios vivem uma crise sem precedentes" desde que explodiu, em março de 2011, uma revolta popular que se converteu em conflito armado e que, segundo a ONU, deixou mais de 60.000 mortos.
O chefe da coalizão opositora impôs duas condições prévias: a libertação "das 160 mil pessoas" presas durante a revolta contra o regime e a renovação dos passaportes dos sírios no exterior por parte das embaixadas para que não sejam detidos em seu retorno ao país. Suas declarações provocaram rejeição de uma parte da oposição, principalmente do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal força da Coalizão.
O CNS ressaltou em um comunicado que esta atitude "não reflete a posição da Coalizão e vai de encontro aos princípios fundamentais da Coalizão (...) que rejeita dialogar com o regime assassino". O presidente sírio, Bashar al-Assad, havia proposto no início de janeiro um plano de saída da crise que previa um diálogo nacional em Damasco, categoricamente rejeitado pela oposição que exige a saída de Assad antes de qualquer negociação.
O governo tem estabelecido mecanismos necessários para este diálogo e as autoridades multiplicaram recentemente seus apelos para o retorno dos opositores e refugiados, assegurando todas as garantias para que não sejam perturbados. Na terça-feira (29/1), a oposição tolerada pelo regime indicou estar preparada para um diálogo para aplicar o acordo de Genebra que prevê uma transição na Síria.
Ataque israelense contra comboio de armas
No terreno, Israel atacou pela primeira vez em dois anos de conflito na Síria um comboio com armas procedente da Síria na fronteira sírio-libanesa, afirmaram fontes dos serviços de segurança. No domingo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu sobre "importantes ameaças de segurança contra Israel", citando o Irã e "armas letais em uma Síria que está se desintegrando".
As fontes de segurança, que pediram o anonimato, não informaram o local exato do ataque. Uma delas disse que se tratava de um "comboio armado em direção ao Líbano". Israel ameaçou em várias ocasiões atacar comboios que pudessem transportar armas químicas ou de outros tipos em direção ao Líbano para o Hezbollah xiita libanês, um movimento islamita próximo a Damasco.
Frente a uma crise humanitária sem precedentes, os países que participaram nesta quarta-feira (30/1), no Kuwait, na conferência de doadores para a Síria se comprometeram a conceder um bilhão e meio de dólares para ajudar os civis do país. A responsável pelas questões humanitárias da ONU, Valerie Amos, assegurou que a ajuda aos civis será distribuída de forma equilibrada, em resposta às críticas de uma ONG, segundo as quais as zonas controladas pelo governo recebiam quase a totalidade das doações. "Nós trabalhamos com um certo número de parceiros no terreno. Não há dinheiro que vai diretamente para o governo", declarou.