Nova Délhi - O aclamado autor britânico Salman Rushdie cancelou nesta quarta-feira (30/1) o evento da promoção de um filme e um veterano ator indiano, Kamal Haasan, ameaçou optar pelo exílio em função de grupos islâmicos que protestaram contra seu trabalho.
Rushdie foi forçado a cancelar uma viagem para promover o filme de seu romance "Os Filhos da Meia-Noite" na cidade de Kolkata. Rushdie é autor do livro "Os Versos Satânicos", de 1988, que permanece banido na Índia por alegadamente insultar o Islã. As imagens de TV mostraram cerca de cem pessoas de vários grupos muçulmanos reunidos fora do aeroporto de Kolkata, na manhã desta quarta, para protestar contra a visita do autor.
Já o ator Kamal Haasan disse que deve deixar o país depois que seu novo filme "Vishwaroopam" foi forçado a ser retirado de cartaz dos cinemas pelo governo no estado de Tamil Nadu, ao sul, por apresentar uma imagem negativa dos muçulmanos. Os últimos incidentes ocorrem em meio à crescente preocupação sobre a liberdade de expressão e artística na Índia.
Haasan disse que estava farto da controvérsia gerada sobre seu filme e que buscaria outro país para viver, tal como o aclamado pintor indiano M.F. Hussain, que foi alvo da Hindus radicais e deixou o país em 2006. "Espero encontrar outro país que seja secular e que me acolha. M.F. Hussain teve de fazer isso, e agora Haasan também o fará", anunciou em coletiva de imprensa em Chennai, na capital de Tamil Nadu.
Rushdie, que teve sua estada na Índia mantida sob sigilo devido a ameaças, passou uma década se escondendo do líder espiritual iraniano Aitolá Ruhollah Khomeini, que emitiu uma fatwa (um decreto religioso) em 1989 pedindo por sua morte. No ano passado, Rushdie foi forçado a não comparecer a um festival literário na cidade de Jaipur, ao noroeste da Índia, após ameaças de morte e protestos de islamitas.
Na terça-feira, o acadêmico indiano Ashis Nandy teve uma queixa policial contra ele arquivada por dizer que alguns dos grupos mais desfavorecidos da Índia eram "os mais corruptos". E também no ano passado, um chargista foi acusado de gerar motim e preso após uma queixa sobre seu trabalho que abordava a corrupção em massa no governo e na sociedade.