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Judaicos argentinos rejeitam acordo com Irã por atentado antissemita

A comunidade é a maior na América Latina, e não quer a formação da Comissão da Verdade

Buenos Aires - A comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, rejeitou nesta segunda-feira (28/1) o acordo assinado entre a Argentina e o Irã para formar uma Comissão da Verdade com o intuito de investigar o atentado antissemita à mutual AMIA em 1994, que deixou 85 mortos.

A Argentina acusa o Irã de ser o autor intelectual do atentado, o que Teerã nega veementemente. "A formação de uma ;Comissão da Verdade;, que não é reconhecida pelas leis argentinas que regulam o processo penal, implicaria em um declínio de nossa soberania", informaram a AMIA e a DAIA, as duas maiores representações dessa comunidade na Argentina.

A Argentina assinou no domingo um acordo com o Irã na Etiópia com o objetivo de criar uma comissão independente para investigar o atentado de 1994 em Buenos Aires contra o centro judeu AMIA (Associação Mutual Israelense Argentina), pelo qual havia pedido a extradição de oito iranianos.

"Ignorar tudo o que foi feito pela justiça argentina substituindo por uma Comissão que, no melhor dos casos, emitirá, sem data definida, uma ;recomendação; aos envolvidos, constitui, sem dúvida, um retrocesso no objetivo comum de obter justiça", declararam ambas as entidades em um comunicado conjunto.



Segundo o acordo firmado este domingo em Addis Abeba pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, e seu colega iraniano, Ali Salehi, os iranianos acusados poderão ser interrogados em Teerã pelo promotor e o juiz encarregado do caso na Argentina. Enquanto isso, a chancelaria israelense informou esta segunda-feira estar "surpresa" com o acordo anunciado na véspera.

"As notícias nos surpreenderam", disse à AFP o porta-voz da chancelaria israelense, Yigal Palmor. "Estamos esperando para receber dos argentinos todos os detalhes sobre o que está acontecendo porque obviamente este tema está diretamente relacionado com Israel".

A embaixada de Israel em Buenos Aires foi alvo de um atentado em 1992 que deixou 29 mortos e 200 feridos, dois anos antes do ataque contra o edifício de seis andares que sediava a AMIA, em um bairro comercial da capital argentina.

Pelo atentado, Buenos Aires exige desde 2006 a extradição de oito iranianos, entre eles o atual ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, o ex-presidente Ali Rafsanjani (1989-1997) e o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, todos eles com ordem de captura internacional expedida pela Interpol.

A AMIA, que engloba as instituições da comunidade judaica, e a DAIA (Delegação de Associações Israelitas da Argentina), seu braço político, lembraram que a Interpol, assim como as apresentações feitas por promotores argentinos da causa, resolveu que "as provas eram suficientes e aptas para requerer as capturas".

A Comissão da Verdade será integrada por juristas independentes que não poderão ser cidadãos de nenhum dos dois países. "Qualquer Comissão a ser criada não pode ter outra função que a de controlar ou fiscalizar a legalidade dos interrogatórios", reagiram AMIA e DAIA sobre o acordo entre Buenos Aires e Teerã, que deve ser aprovado pelos dois Congressos.

Em outubro, a Argentina e o Irã abriram negociações na sede da ONU, em Genebra, para resolver as ações judiciais pendentes na investigação do atentado.

O governo iraniano nega qualquer participação no atentado e rejeitou as acusações de terrorismo contra seus oito cidadãos, negando-se a cumprir as ordens de captura expedidas pela Interpol, o que mantém o processo judicial paralisado por anos e sem detidos. A comunidade judaica da Argentina é a maior da América Latina, com 300.000 pessoas.