Cairo - A polícia egípcia usou gás lacrimogêneo contra manifestantes no Cairo, Alexandria (norte) e Suez (noroeste), segundo testemunhas, enquanto manifestações foram realizadas em todo o Egito por ocasião do segundo aniversário da revolta contra Hosni Mubarak.
Segundo os serviços de segurança, mais de 100 pessoas ficaram feridas em todo o país.
[SAIBAMAIS]Além da ação da polícia contra manifestantes situados perto do palácio da presidência na capital, confrontos foram registrados em Alexandria, segunda maior cidade do Egito, entre a polícia e manifestantes que queimaram pneus.
"Tem muita fumaça por causa dos pneus queimados. E há pessoas deitadas no chão sem conseguir respirar devido ao gás lacrimogêneo", relatou Racha, habitante de Alexandria.
Em Suez, próximo a entrada sul do canal de mesmo nome, manifestantes lançaram pedras contra a sede do governo local. A polícia também respondeu com gás lacrimogêneo.
A sede local do partido da Irmandade Muçulmana, da qual o presidente Mursi faz parte, na cidade de Isma;liya, no canal de Suez, foi incendiada por manifestantes hostis ao regime, indicou um correspondente da AFP.
Uma fumaça negra saía das janelas do prédio do Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ) nesta cidade, enquanto a Irmandade indicou que manifestantes tentaram invadir uma de suas sedes no Cairo, no bairro de Tawfikiya, próxima ao centro da cidade.
Uma correspondente da AFP no local viu manifestantes lançando pedras contra o prédio e sendo afastados pelos residentes do local. Sons de tiros também puderam ser ouvidos, sem ser possível determinar a origem e a natureza exata.
No Cairo, manifestantes hostis ao regime se reuniram em frente ao prédio da televisão estatal, que também abriga o ministério da Informação, antes de se concentrarem na Praça Tahrir, no centro da capital.
Os acessos ao prédio precisaram ser protegidos por policiais e militares, e o tráfego nos arredores foi bloqueado.
Na Praça Tahrir, milhares de manifestantes protestam contra o presidente islâmico Mohamed Mursi e para exigir uma "nova revolução".
Confrontos esporádicos foram registrados entre a polícia e manifestantes nas ruas adjacentes da emblemática praça, epicentro dos protestos de janeiro-fevereiro de 2011 que derrubaram Mubarak.
"Será um longo dia porque os egípcios não aguentam mais", considerou um manifestante, Mohammed Abdullah.
Na Praça Tahrir, os manifestantes gritavam "Abaixo o poder do Guia" da Irmandade Muçulmana.
A oposição, formada por movimentos de esquerda e liberais, convocou protestos em todo o país contra o presidente Mursi e a Irmandade Muçulmana, recuperando as mesmas palavras de ordem utilizadas dois anos atrás: "Pão, liberdade, justiça social".
"Tomem as praças para cobrar as reivindicações da revolução", pediu no Twitter Mohamed ElBaradei, uma das principais figuras da oposição laica.
"Que Deus proteja o país", foi a manchete do jornal independente Al-Shuruq, enquanto o jornal governamental Al-Gomhuriya instou a calma, pedindo ao povo para "permanecer ao lado da nação".
Na quinta-feira à noite, Mursi fez um apelo a seus compatriotas a celebrar "de maneira pacífica e civilizada" o segundo aniversário da revolta.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu aos egípcios para que mantenham "os princípios universais do diálogo pacífico e da não-violência".
A Irmandade Muçulmana, não se manifestou oficialmente. Para marcar o aniversário, lançaram uma iniciativa chamada de "Juntos construiremos o Egito", reunindo uma série de ações sociais e de caridade.
Mas o clima promete ficar pesado com o anúncio, esperado para sábado, do veredito dos supostos responsáveis pela morte de 74 pessoas em uma partida de futebol em Port-Said (noroeste), em fevereiro de 2012.
A torcida organizada "Ultra" do time Al-Ahly, da qual vazia parte a maioria das vítimas, ameaça manifestações violentas e uma "revolução" se não conseguir justiça.
Dois anos após o terremoto político da revolta, o país ainda luta para encontrar um equilíbrio entre um poder que conta com a legitimidade das urnas e seus adversários que condenam o surgimento de um sistema autoritário dominado pela Irmandade Muçulmana.
O país também enfrenta uma grave crise econômica, com a queda dos investimentos estrangeiros, a queda no turismo e um déficit orçamentário que voltou a aumentar.
Hosni Mubarak, de 84 anos, doente e condenado à prisão perpétua, espera seu julgamento em meio à indiferença de grande parte da população, que o considera pertencente ao passado.