Tóquio - As duas maiores companhias aéreas do Japão paralisaram metade da frota dos Dreamliners após um pouso de emergência efetuado por um voo da All Nippon Airways (ANA), causando novos problemas para a última geração de aviões da Boeing. No entanto, as empresas, inclusive a ANA, insistem ainda que os aviões da nova geração da aeronaves 787 Dreamliner da Boeing ainda são uma aposta segura, apesar de inúmeros incidentes que desencadearam investigações de segurança por parte de reguladoras americanas e de outros países.
A All Nippon Airways - primeira companhia aérea a receber o Dreamliner da Boeing após anos de atraso na entrega - comunicou que a emissão de fumaça causada, possivelmente, por um problema na bateria forçou os pilotos a pousar o avião de passageiros em Takamatsu, no sudoeste do Japão. A linha aérea informou que os instrumentos da cabine haviam detectado fumaça dentro do compartimento elétrico. O ministro dos Transportes do Japão, Akihiro Ota, afirmou que o "incidente foi sério e que poderia ter ocasionado um acidente grave"
Um dos 129 passageiros no voo doméstico foi citado pelo canal de televisão NHK ao descrever que sentiu "um cheiro estranho" logo após o avião ter levantado voo. O passageiro temia que a aeronave fosse cair. Não houve registro de feridos quando os passageiros e oito membros da tripulação tiveram que ser evacuados pelas saídas de emergência. A ANA e sua concorrente Japan Airlines (JAL) - que estão entre as maiores clientes do Dreamliner da Boeing - informaram que manteriam no chão toda a frota até, pelo menos, esta quinta-feira para verificações de segurança.
[SAIBAMAIS]A empresa japonesa tem uma frota de 17 Dreamliners e a JAL possui sete - metade das 49 aeronaves que estão em operação no mundo. Cerca de 850 estão na fila de espera para serem produzidas pela Boeing. O Dreamliner é visto como um marco da aviação por levar materiais leves e eletrônicos, ao invés de alumínio e componentes hidráulicos. As companhias aéreas aderiram a este modelo de aeronave em um contexto de alta global do preço dos combustíveis.
Uma semana de contratempos, entre os quais uma aterrissagem de emergência, gerou manchetes indesejadas para a Boeing, que anuncia ter "total confiança" na aeronave e se compromete a trabalhar com seus clientes e agências reguladoras. Além de problemas como um vazamento de combustível e a janela da cabine defeituosa que marcaram os 787 nestes últimos dias, houve ainda um incêndio na bateria e fumaça detectada em um Dreamliner vazio operado pela JAL em solo americano na cidade de Boston, na última semana.
Em comunicado, a JAL informou que o problema na bateria ocorreu na unidade auxiliar fornecedora de energia, localizada na parte traseira do avião. Já o incidente desta quarta envolveu a bateria da unidade de alimentação principal na parte da frente do avião. "Estamos utilizando esta aeronave há apenas um ano e não temos informações suficientes sobre a causa do problema. Por isso, decidimos paralisar o uso dos aviões neste momento", anunciou o vice-presidente da ANA, Osamu Watanabe, em coletiva de imprensa.
Tanto o Ministério dos Transportes do Japão como a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês), ampliaram as investigações existentes para abranger o último incidente com o Dreamliner. O analista de aviação da Standard and Poor;s Equity Research em Cingapura, Shukor Yusof, disse que a Boeing pode sofrer um "grande baque" caso a agência de aviação americana ordene mudanças estruturais no desenho do Dreamliner. "Mas ainda não chegamos nesta fase", ponderou.
Estes problemas apresentados recentemente são constrangedores para a Boeing, destacou Yusof. "Esta é uma aeronave que sofreu atrasos por cerca de três anos. Assim, os clientes em potencial irão naturalmente questionar a segurança da aeronave". Apesar da decisão de não levantar voo até esta quinta, a ANA informou que manterá seus compromissos de bilhões de dólares para encomendas de futuros 787. Companhias aéreas como a British Airways, Singapore Airlines, a Qantas da Austrália e a Korean Air reafirmaram que irão manter também os pedidos de produção do Dreamliner.
A confiança pública no Dreamliner pode ter sido abalada ainda mais após contratempos na produção da Boeing por seus fornecedores, muitos dos quais japoneses, que atrasaram em três anos a entrega da primeira aeronave comprada pela ANA, para 2011. "Nesta manhã, quando soube da notícia fiquei um pouco apreensivo. Verifiquei se meu voo não seria em um Boeing 787", disse à AFP o passageiro Tomohiko Maruyama, quem aguardava para embarcar em um voo da ANA no aeroporto Haneda em Tóquio.