Agência France-Presse
postado em 15/01/2013 15:23
Damasco - Mais de 80 pessoas, em sua maioria estudantes, morreram em uma dupla explosão na universidade da cidade síria de Aleppo, no mais recente capítulo da guerra devastadora na Síria.Este é um dos ataques mais mortíferos desde o início do conflito no país, há 22 meses, desencadeado pela repressão a uma onda de contestação popular contra o regime de Bashar al-Assad.
Ainda não é possível determinar a autoria da dupla explosão. Rebeldes e regime rejeitam a responsabilidade.
"O registro do atentado terrorista, que teve como alvo nossos estudantes no primeiro dia de provas, chega a 82 mártires e mais de 160 feridos", afirmou o governador Mohammad Wahid Akkad.
Esse número foi confirmado por um médico do hospital universitário de Aleppo.
O presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, afirmou que "pelo menos 52 pessoas morreram em duas explosões, mas há muitos feridos e o número de mortos pode ser mais elevado".
Militantes contrários ao regime afirmaram que as explosões ocorreram devido a um bombardeio aéreo efetuado pelas tropas do regime, enquanto uma fonte militar síria assegurou que haviam sido provocadas por dois mísseis terra-ar disparados pelos rebeldes, que erraram o alvo e caíram no campus.
A agência oficial síria Sana indicou "dois foguetes disparados por grupos terroristas" contra a universidade situada no oeste da cidade, a segunda maior do país dividida entre bairros rebeldes e outros controlados pelo Exército.
"Era o primeiro dia das provas trimestrais e estudantes e refugiados fazem parte das vítimas", indicou a Sana.
A explosão causou danos na Faculdade de Belas Artes e na de Arquitetura.
O Ministério do Ensino Superior anunciou o fechamento na quarta-feira das universidades em todo o país e a suspensão das provas "em sinal de luto".
Apesar dos combates, a Universidade de Aleppo abriu suas portas em meados de outubro. Ela está situada em um setor controlado pelo Exército.
Vários atentados ocorreram nos últimos meses na Síria, onde a guerra entre as tropas do regime e os rebeldes não conhece trégua. No total, pelo menos 152 pessoas, incluindo 128 civis, perderam a vida em todo o país nesta terça-feira, segundo o OSDH.
Vídeos postados por estudantes mostram o pânico em um prédio universitário. Alguns jovens choram em meio a escombros no solo, enquanto outros se aproximam da porta de entrada, sendo interrompidos por um grito.
Enquanto a oposição exige que Assad deixe a presidência, o vice-ministro das Relações Exteriores, Moqdad Jihad, afirmou em uma entrevista à BBC que o presidente poderia legitimamente se candidatar à presidência em 2014, principalmente com o apoio de um Exército que continua leal.
"Por que excluí-lo? A diferença é que agora o presidente e os outros candidatos devem se apresentar ao povo, apresentar suas propostas e ser eleitos pelo povo (...) serão as urnas que vão decidir o futuro da Síria", declarou Moqdad.
Desde que o Partido Baath chegou ao poder, há meio século, um único candidato se apresenta às eleições sírias, primeiro Hafez Assad e, em seguida, seu filho Bashar, em 2000.
Os mandatos são de sete anos e, segundo a Constituição aprovada em fevereiro de 2012, o atual chefe de Estado tem o direito de se candidatar duas vezes a partir de 2014. Poderia, assim, governar até 2028, totalizando 28 anos de poder.
A Rússia, principal aliada do regime, indicou no domingo que a saída do presidente não está incluída em acordos internacionais e considerou ser "impossível sua aplicação".
Ela também considerou nesta terça como "contra-produtiva" a iniciativa de 57 países de acionar o Tribunal Penal Internacional para investigar os crimes cometidos na Síria, onde mais de 60.000 pessoas morreram nos quase dois anos de guerra, segundo a ONU.