Damasco - Os rebeldes alcançaram nesta sexta-feira (11/1) uma importante vitória ao tomarem o controle do maior aeroporto militar do norte da Síria após vários dias de violentos combates, e no mesmo dia em que diplomatas russos e americanos e o mediador internacional Lakhdar Brahimi se reúnem em Genebra para buscar uma solução para o conflito.
Segundo o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, os combates no aeroporto militar de Taftanaz cessaram às 9h GMT (7h de Brasília) e esta base está totalmente nas mãos dos insurgentes. "Há muitos mortos entre as forças do regime. Uma grande parte dos soldados e dos oficiais fugiram ao amanhecer", acrescentou. "Trata-se da mais importante tomada de uma base aérea desde o início da revolta", em março de 2011 contra o regime de Bashar al-Assad, disse o diretor do OSDH.
A conquista do aeroporto "foi alcançada pela Frente al-Nusra, pelo Ahrar al-Sham e pelo Taliaa al-Islamiya", três grupos radicais islamitas, disse Abdel Rahman. Recentemente, os rebeldes conquistaram dois aeroportos de menor importância, perto de Bou Kamal (leste) e na região de Damasco. Segundo Rahman, o "regime conseguiu, no entanto, deslocar para a cidade de Idleb (20 km ao sul de Taftanaz) um grande número de veículos militares, mas parte deles caiu nas mãos dos rebeldes".
[SAIBAMAIS]O aeroporto militar de Taftanaz pode abrigar normalmente 60 helicópteros, mas o regime os retirou, com exceção de cerca de 20 que já não estão em funcionamento, segundo o OSDH, uma ONG que baseia suas informações em uma ampla rede de militantes e médicos na Síria. Pouco depois da captura da base, a aviação do regime bombardeava as pistas e os imóveis do aeródromo, para torná-lo inutilizável, segundo o OSDH.
Refugiados descalços em pleno inverno
Entretanto, em Genebra, autoridades russas e americanas e o emissário internacional Lakhdar Brahimi se reúnem nesta sexta-feira na sede da ONU para falar sobre as possíveis soluções políticas para o conflito na Síria. A reunião contará com a participação do secretário de Estado adjunto americano, William Burns, e do vice-ministro russo das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov.
Moscou afirma que a solução do conflito passa por um diálogo entre o poder e a oposição, sem condições prévias, enquanto os rebeldes, apoiados pelos países ocidentais, exigem a partida do presidente Bashar al-Assad. Esta reunião ocorre pouco depois de a Síria acusar Brahimi de parcialidade a favor "dos círculos (que conspiram) contra a Síria", embora não tenha fechado a porta das negociações.
Por sua vez, a Coalizão da oposição síria, reconhecida por vários países ocidentais e árabes, pediu nesta sexta-feira em um comunicado o assento da Síria na Liga Árabe e nas Nações Unidas, e que sejam transferidos a ela os bens congelados do regime de Assad. Por fim, o número de refugiados sírios registrados nos países vizinhos e no norte da África aumentaram em mais de 100.000 no mês passado, superando os 600.000, anunciou nesta sexta-feira em Genebra o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Segundo o ACNUR, 612.134 sírios foram registrados como refugiados em países vizinhos da Síria, contra 509.550 no dia 11 de dezembro. É um "aumento muito forte", declarou o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, à imprensa em Genebra. "Muitos refugiados abrigados ou não nos acampamentos enfrentam o frio e a umidade. Muitos deles chegam descalços, com a roupa coberta de barro e de neve", afirmou Edwards.
A ONU espera que o número de refugiados sírios alcance 1,1 milhão de pessoas em junho se a guerra continuar. Ainda de acordo com a ONU, mais de 60 mil pessoas morreram na revolta popular contra o regime de Assad, iniciada em março de 2011 e convertida posteriormente em um aberto conflito militar.