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Em Belfast, violência aumenta após a retirada da bandeira britânica

Belfast - Noite após noite, há um mês, incidentes violentos se multiplicam em Belfast, apesar das tentativas dos líderes políticos e religiosos de acabar com a crise provocada pela retirada da bandeira britânica da prefeitura, um psicodrama que demonstra a fragilidade da paz no Ulster.

Os manifestantes "sequestraram" a província britânica norte-irlandesa, denunciou nesta terça-feira a ministra do Ulster, Theresa Villiers, depois de mais uma noite violenta.

"Não é aceitável que os que defendem a bandeira britânica o façam jogando tijolos e coquetéis Molotov contra a polícia. Isso é ultrajante", disse ela à BBC.

Na origem desta onda de violência está a decisão altamente simbólica tomada em 3 de dezembro pelo Conselho Municipal de Belfast, a capital do Ulster, de não hastear a bandeira britânica em frente à prefeitura.

O Conselho apenas se adequou aos regulamentos que se aplicam aos prédios do governo. Mas a decisão foi vista como uma provocação pelos protestantes, a favor da manutenção no Reino Unido do Ulster, província britânica semi-autônoma abalada por confrontos interreligiosos durante trinta anos, até o acordo de paz de 1998.



Em três décadas, os confrontos entre monarquistas protestantes e republicanos católicos, defensores de uma união com a República da Irlanda, fronteiriça, causaram 3.500 mortes. Desde então, um governo biconfessional assumiu o poder, mas a violência vem à tona esporadicamente, lembrando as divisões contínuas entre as duas comunidades.

Desde a votação do Conselho em 3 de dezembro, todas as noites, ou quase, à exceção de uma trégua durante o período de Natal, grupos de fiéis protestam, muitas vezes de forma violenta, para exigir o retorno da Union Jack.

Erguem barricadas, jogam pedras e atacam veículos da polícia. As forças de ordem respondem com canhões de água e disparos de balas de borracha, como na época sombria do Ulster. Resultado: 60 policiais feridos e centenas de pessoas presas em um mês.

"Este é, certamente, o período mais difícil que enfrentamos em uma década", reconheceu Terry Spence, presidente da Federação da Polícia da Irlanda do Norte, uma instituição que representa os membros da polícia da província britânica semi-autônoma.

Segundo ele, os membros do grupo paramilitar Ulster Volunteer Force (UVF) orquestram estes incidentes. "Os paramilitares aproveitaram as manifestações relacionadas à bandeira, e as transformaram em ataques contra a polícia", disse.

Os políticos também são alvos: todos receberam ameaças de morte, em forma de balas enviadas pelo correio.

Representantes políticos e religiosos do Ulster deram início no domingo em Belfast a discussões para tentar impedir a propagação do surto de violência. Até agora, em vão.

"Temos de encontrar uma forma de sair dessa, mas como? Eu não sei", admitiu Robin Newton, do Partido Democrata Unionista (DUP), formação do primeiro-ministro da Irlanda do Norte, Peter Robinson, predominantemente protestante.

Do outro lado da fronteira, na República da Irlanda, a polícia está em alerta. Ela avalia o risco representado por uma manifestação programada para sábado, em Dublin, e organizado por monarquistas. O último grande protesto desse tipo na capital irlandesa, em 2006, terminou em violência e saques.