Cabul - Uma policial afegã matou a tiros um conselheiro civil da Otan no quartel general da polícia em Cabul, o primeiro "ataque do interior" realizado por uma mulher das forças locais contra seus aliados ocidentais. A mulher, que vestia o uniforme da polícia afegã, atirou nesta segunda-feira (24/12), véspera de Natal, contra o conselheiro da missão da Otan no Afeganistão (Isaf), cuja nacionalidade não foi revelada, indicaram fontes da segurança afegã, sem especificar as razões para o ataque.
O conselheiro civil não resistiu e faleceu, lamentou um porta-voz da Isaf, que indicou que uma investigação foi aberta. A mulher foi presa depois de uma intervenção policial digna de um filme de ação. "Eu ouvi tiros e vi essa mulher vestida com o uniforme da polícia, que atirava para o ar enquanto corria. Eu a persegui e pulei sobre ela. Coloquei minha arma em sua cabeça e disse-lhe para não se mover", relatou à AFP um policial afegão encontrado na cena do crime.
"Ela não resistiu e eu tirei sua arma", acrescentou o homem que pediu o anonimato, acrescentando que o ataque ocorreu no pátio da sede da polícia. Soldados americanos patrulhavam o quartel da polícia no centro da capital do Afeganistão, após o ataque, de acordo com um fotógrafo da AFP no local. A Embaixada dos Estados Unidos, no entanto, indicou que ainda não pode confirmar a nacionalidade da vítima.
Desde o início do ano, cerca de 60 soldados da Otan foram mortos por homens uniformizados no Afeganistão, um novo fenômeno que dá dores de cabeça para a coalizão. A multiplicação desses "ataques internos" também criou um clima de desconfiança entre os soldados estrangeiros e aliados afegãos. O último caso de "fogo interior" remonta a mais de um mês. Um soldado britânico foi morto em 11 de novembro, na província de Helmand (oeste), alvo frequente do Talibã perto da capital Cabul, muito mais segura.
A Otan atribui grande parte desses ataques a diferenças culturais, mas também reconhece que um quarto deles são devido a infiltração nas forças de segurança afegãs de insurgentes talibãs. A missão de combate da Otan no Afeganistão termina no final de 2014. Após esse prazo, as forças afegãs passam a garantir, em sua totalidade, a proteção do território contra os talibãs.
As forças afegãs precisaram aumentar seus números, para 350.000 homens, para se preparar para assumir o papel realizado pelas forças ocidentais. Mas alguns críticos afirmam que este recrutamento acelerado afetou a seleção de candidatos e facilitou a infiltração de membros do Talibã. Observadores prevêem uma guerra civil ou o retorno do Talibã ao poder em Cabul, após a retirada das forças ocidentais no país.
Mas a recente reconciliação entre o Afeganistão e o Paquistão, que tem ligações históricas com os insurgentes do Talibã, também fazem ressurgir a esperança de um acordo de paz para estabilizar o país após 2014, incorporando rebeldes islâmicos ao poder.