Roma - O chefe de governo italiano, Mario Monti, afirmou neste domingo (23/12) que não se candidatará às eleições gerais de fevereiro, mas disse estar pronto para dirigir o país, se o Parlamento o quiser.
"Para as forças que manifestam uma adesão convicta e credível ao programa Monti, estou pronto para dar minha opinião, o meu apoio, e se me pedirem, a dirigi-los", declarou Monti em uma coletiva de imprensa que começou às 10h30 GMT (8H30 no horário de Brasília).
"Estou pronto para assumir um dia, se as circunstâncias o justificarem, as responsabilidades que seriam atribuídas a mim pelo Parlamento", prosseguiu Monti, de 69 anos.
Monti anunciou a publicação na internet de "um programa para mudar a Itália e reformar a Europa", apresentado como "uma agenda para um engajamento comum, uma primeira contribuição para uma discussão aberta".
De acordo com ele, os pontos-chave da agenda são a criação de uma nova lei anti-corrupção, um programa de liberalizações e uma reforma da lei eleitoral, com "muito rosa e muito verde", o que significa um espaço considerável às mulheres e ao meio ambiente.
Para ele, a chave é "não destruir os duros sacrifícios que os italianos tiveram que fazer" durante o ano passado.
Monti fez um balanço de seus 400 dias à frente do país, ao mesmo tempo em que atacou o seu antecessor e rival, Silvio Berlusconi.
"A crise financeira foi superada" e "sem a ajuda europeia ou do FMI", como muitos sugerem, comemorou.
"Os italianos podem manter a cabeça erguida como cidadãos europeus", ressaltou, após recordar "a situação perigosa em que o país se encontrava", quando assumiu, em novembro de 2011, o cargo de Silvio Berlusconi.
Uma alfinetada foi guardada para o Povo da Liberdade (PDL), partido do Cavaliere, responsável por sua saída prematura ao retirar o seu apoio do governo.
Monti criticou com ironia Berlusconi, expressando a sua "consternação" com as declarações contraditórias do Cavaliere. "Eu tenho muita dificuldade em seguir a linearidade do seu pensamento", disse.
"Há um quadro de compreensão mental que me escapa", frisou, lembrando que o seu antecessor havia qualificado os seus resultados à frente do país como um "desastre", quando dias antes o chamou para liderar uma coalizão moderada.
Ao atacar uma das promessas de Berlusconi, de suprimir o IMU, imposto muito impopular sobre a propriedade, Monti advertiu: "se retirarmos a IMU, no ano seguinte ele retornará em dobro".
Pressionado por todos os lados, pelos parceiros europeus, mas também internamente, pela comunidade empresarial e a Igreja Católica para se engajar na arena política, pediu cautela.
Candidatar-se às eleições gerais significaria um combate direto com Pier Luigi Bersani, candidato da esquerda e favorito ao cargo de primeiro-ministro. Bersani já anunciou que, se eleito, irá continuar no caminho da reforma.
Outro confronto perigo seria com Silvio Berlusconi, em campanha desde o início de dezembro. "Não há nada para salvar do governo Monti", disse o Cavaliere no sábado, prosseguindo com seu discurso anti-impostos e anti-euro.
Em paralelo, o seu partido PDL exortou o presidente Giorgio Napolitano para assegurar a "neutralidade" de Monti durante a campanha.
Finalmente, as pesquisas não são animadoras para Mario Monti. De acordo com o instituto SWG, o presidente do Conselho conquistaria apenas seis pontos e não teria força o bastante na formação do próximo governo.
A mesma pesquisa mostra que 60% italianos são contra a candidatura política de Monti.
Isso explicaria a postura cautelosa adotada por Mario Monti neste domingo, o que o deixa "na reserva da República" como primeiro-ministro, caso não haja maioria clara no Parlamento.
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