Jornal Correio Braziliense

Mundo

Em crise política, Egito vota última fase de referendo sobre a Constituição

Os egípcios votam neste sábado (22/12) na segunda e última fase do referendo sobre o projeto de Constituição defendido pelos islamitas, e que parece próximo de ser adotado, apesar de uma forte campanha da oposição e uma profunda crise política. Sinal da tensão persistente, partidários e opositores do projeto de Constituição entraram em confronto na sexta-feira em Alexandria, a segunda maior cidade do país, deixando dezenas de feridos. Este referendo ocorre em um contexto de grave crise econômica, e as incertezas políticas já provocaram o adiamento de um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI).



"Risco de uma islamização"

Para a presidência, a adoção de uma nova Constituição traria ao país uma estabilidade institucional, concluindo assim a transição tumultuada que vive o Egito desde a queda do presidente autocrata Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. A oposição, composta por movimentos de esquerda e liberais, considera que o texto abre caminho para a islamização do país e que tem graves lacunas em termos de proteção das liberdades. Ela denuncia numerosas "fraudes e irregularidades" na primeira fase do referendo.

Este referendo foi precedido por várias semanas de protestos que, ocasionalmente, degeneraram em confrontos entre opositores e partidários do presidente Mohamed Mursi e a Irmandade Muçulmana, que defendem a proposta de Constituição. No início de dezembro, oito pessoas foram mortas em confrontos entre pró e anti-Mursi nos arredores do palácio presidencial no Cairo. Sexta-feira, a polícia precisou usar gás lacrimogêneo para dispersar partidários e opositores do projeto em Alexandria.

Se o projeto for aprovado, eleições legislativas estão previstas para substituir a Assembleia dentro de dois meses. Mas de acordo com analistas, a adoção de uma nova Constituição não deve acabar com a crise, já que as divisões são extremamente profundas entre os dois campos sobre a visão da sociedade egípcia na era pós-Mubarak.

Mohamed ElBaradei, chefe da Frente Nacional de Salvação (FNS), a principal coalizão de oposição, considera que "o país está à beira da falência". O mufti do Egito, Ali Gomaa, uma das maiores autoridades muçulmanas do país, convocou, por sua vez, todas as forças políticas a "aceitar os resultados do referendo (...) e colocar o interesse da Egito acima de todas as considerações partidárias ".