Cidade do Vaticano - O Papa da modernização que enfrentou a contestação pós-Vaticano II, Paulo VI, terá seus 15 corajosos anos de serviço prestado à Igreja recompensados por Bento XVI: suas "virtudes heróicas" foram reconhecidas nesta quinta-feira (20/12), um primeiro passo para a sua beatificação. Trinta e quatro anos após sua morte, Bento XVI assinou o decreto que torna "venerável" este Papa italiano de silhueta frágil e rosto grave.
Para que a beatificação aconteça é necessário que seja reconhecido ao menos um milagre, mas vários casos de curas milagrosas por intercessão de Paulo VI já foram apresentados pelas dioceses. A beatificação, que é um estágio anterior à canonização, pode acontecer no fim do próximo ano, o proclamado "Ano da Fé", uma maneira de Bento XVI confirmar a importância do grande Concílio Vaticano II que Giovanni Battista Montini concluiu em 1965.
Entre todos os Papas do pós-guerra, João Paulo II (em tempo recorde) e João XXIII já são veneráveis. Já a beatificação do "Papa sorriso" João Paulo I, que reinou um pouco mais de um mês entre Paulo VI e o Papa polaco, está em andamento. Como Pio XII, um decreto de 2009 de Bento XVI o tornou "venerável", mas, desde então, a situação está progredindo lentamente por causa das críticas à sua atitude, considerada por alguns como passiva durante o Holocausto.
O italiano Giovanni Battista Montini, ex-arcebispo de Milão e um dos maiores colaboradores de Pio XII, assumiu a liderança da Igreja em 1963, em pleno Concílio, após a morte de João XXIII. Ele dirigiu três das quatro sessões de padres conciliares. "Pontificado atormentado", "Papa esquartejado": estas expressões floresceram após a morte deste pontífice, que os observadores ao redor do mundo criticaram por ter lidado com a crise na Igreja causando uma saída em massa de sacerdotes e o início da secularização.
Paulo VI teve um pontificado particularmente ativo, marcado pelas primeiras viagens de um Papa ao redor do mundo, da Índia à Uganda e Colômbia, das Nações Unidas à Terra Santa, e encíclicas importantes. Ele iniciou um diálogo sem precedentes com as nações e outras religiões.
Pontífice escrupuloso, prestou atenção a todas as mudanças no mundo e as situações de injustiça da guerra. Ele teve de gerir internamente o início da divisão fundamentalista, as violentas brigas litúrgicas, a teologia da libertação, a contestação dos dogmas, tudo isso no contexto da primavera de maio de 1968.
Ele enfrentou as mais duras críticas por dizer não, depois de meses de hesitação, à contracepção na encíclica "Humanae Vitae", em 1968: uma decisão que o rotulou como retrógrado, depois de construir uma imagem de abertura. O alcance da contestação na Igreja o levou muitas vezes a tomar posições rigorosas, consideradas como de direita pelos críticos.
Hoje recebeu uma homenagem: "depois de conduzir até a sua conclusão o Concílio, conseguindo uma aprovação quase unânime, foi testemunha da contestação, continuando a repetir em seus discursos e encíclicas o Credo da Igreja, sem nunca dar um passo atrás no caminho certo pelo Concílio Vaticano II ", resumiu o vaticanista do La Stampa, Andrea Tornielli. Sinal do reconhecimento geral da Igreja, os teólogos e cardeais reunidos no "ministério" das Causas dos Santos, manifestaram opiniões favoráveis unânimes. Joseph Ratzinger, que foi feito arcebispo de Munique e cardeal pelo Papa Paulo VI em 1977, seguiu de perto e de forma positiva todo o longo processo.
A causa foi defendida com sucesso pelo postulador da causa de beatificação, padre Antonio Mazzarro. Entre outros eventos inexplicados, uma cura na Califórnia está no caminho de ser reconhecida como um milagre de Montini. Trata-se de uma criança que teve uma doença grave detectada antes de seu nascimento. Sua mãe não quis abortar em 1996. O bebê nasceu sem nenhum problema físico e continua saudável 16 anos depois.