Roma - A Itália se prepara para eleições antecipadas depois de dois anúncios que causaram uma verdadeira reviravolta em seu cenário político: Silvio Berlusconi vai tentar novamente governar o país, e seu sucessor, o austero Mario Monti, anunciou sua renúncia iminente.
Depois de ter apoiado o governo durante um ano, em plena crise dos mercados, o magnata da televisão, amante de belas mulheres, conhecido por suas extravagâncias, seus comentários ácidos e por seu ego, retirou seu apoio ao rigoroso professor de Economia, católico praticante, de ar austero. Os dois encarnam duas imagens opostas da Itália no exterior.
No cenário europeu, Mario Monti é visto como o artífice do saneamento durável da economia italiana, a terceira da zona euro. "Os italianos não devem ceder à ilusão de que existem soluções milagrosas (....) Não há alternativa à correção das finanças públicas e à ampliação de reformas que aumentem a competitividade", advertiu José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, ao jornal econômico Il Sole 24 Ore.
No sábado, Monti anunciou sua decisão "irrevogável" de jogar a toalha após a votação do orçamento previsto até o final do ano. Ele fez esse anúncio no momento em que os mercados estavam fechados, para evitar reações intempestivas.
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[SAIBAMAIS]De acordo com o Corriere della Sera, o chefe do governo ficou particularmente "indignado" com as declarações feitas na sexta pelo secretário-geral do partido de Berlusconi (Povo da Liberdade, PdL), Angelino Alfano, no momento em que esse partido decidiu não votar um texto sobre os custos da política.
Alfano se defendeu na rede de televisão TG2, afirmando que o PdL é "uma força responsável" que votará o orçamento e um decreto-lei permitindo a manutenção das atividades da siderúrgica ILVA em dificuldades.
Se a demissão do ex-comissário europeu ocorrer até o final de dezembro, os italianos poderão votar em fevereiro ou no início de março. Um prazo de 45 a 70 dias está previsto entre a dissolução das câmaras e uma nova votação.
Berlusconi, de 76 anos, que se candidata pela sexta vez, deve basear sua campanha nos impostos que afetam as classes médias, na falta de crescimento, e na crítica a uma Europa que ele considera submetida às vontades da Alemanha.
Mas o partido de Berlusconi precisa se resolver internamente. O PdL está à beira da divisão entre moderados e a ala mais à direita. Uma pesquisa recente dava à formação menos de 14% na próxima eleição nacional.
Domingo à noite, na casa de Silvio Berlusconi em Milão, líderes do Povo da Liberdade se reuniram inicialmente para discutir a eleição antecipada na região-chave da Lombardia em 2013, que poderá ser realizada junto com as eleições legislativas.
Seu antigo aliado, que se tornou um de seus mais ferozes adversários, o presidente da Câmara Gianfranco Fini, comentou à RAI: "O PdL não é o Milan AC, a política não é um assunto particular de Berlusconi: ele sabe perfeitamente que já perdeu, e esse é o elemento que, apesar de tudo, tranquiliza os mercados".
Nas ruas de Roma, os italianos se mostram mais céticos em relação ao retorno do ;Cavaliere;. Mas, depois de um ano, constatou uma mulher, "houve apenas novos impostos criados, os salários continuaram os mesmo de dez anos atrás".
A imprensa italiana criticava o "golpe" de Berlusconi, que se candidata mesmo com os processos que carrega nas costas.
O jornal La Stampa mencionava "os temores daqueles que observam a Itália do exterior". "Se podemos olhar para a primavera (hemnisfério norte) com preocupação e não com angústia, nós devemos isso à firmeza de Monti".
A saída do ex-comissário europeu é saudada como coerente e rigorosa.
Pierluigi Bersani, líder do partido de centro-esquerda, Partido Democrata (PD), e seu candidato --bem colocados-- paras as eleições, revelou sua "atitude de dignidade" frente à "irresponsabilidade" da direita, "que traiu o compromisso feito há um ano".
Segundo o Corriere, a decisão deixa Monti livre e ele poderá se envolver na política, como desejam os centristas e parte da direita, que quer romper com o "berlusconismo" que dominou a Itália durante 18 anos.