Cairo - A rejeição da oposição em participar do diálogo proposto pelo presidente Mohamed Mursi agravou um pouco mais nesta sexta-feira (7/12) a situação política no Egito, onde milhares de pessoas protestaram novamente contra o presidente islamita. Milhares de manifestantes hostis a Mursi, que desencadeou a crise com um decreto que lhe concede poderes muito amplos, se reuniram no Cairo para marchar em direção ao Palácio Presidencial, o epicentro das tensões nos últimos dias e onde o exército se mobilizou.
Os adversários de Mursi batizaram o dia de protestos de "Sexta-feira do cartão vermelho". "Nem decreto, nem Constituição, todo o regime tem que sair", gritavam alguns manifestantes, referindo-se aos poderes excepcionais que o presidente se autoconcedeu e ao referendo previsto para 15 de dezembro sobre um controverso projeto de Constituição. "O povo quer que o regime caia" ou "Fora", gritavam outros.
Segundo testemunhas, também ocorreram manifestações hostis ao presidente na Praça Tahrir, no centro do Cairo, em Hurghada, sobre o Mar Vermelho, e em Qena (sul). Em Alexandria, foram realizadas duas manifestações rivais. Por sua vez, a Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão da oposição presidida pelo prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, indicou em um comunicado sua "rejeição em participar do diálogo proposto pelo presidente da República".
A proposta de Mursi não fornece as bases "para um diálogo verdadeiro e sério", disse o FSN. Na quinta-feira, Mursi defendeu suas novas prerrogativas e o projeto de Constituição e convidou a oposição ao diálogo, em um discurso à nação transmitido pela televisão após os sangrentos confrontos de quarta-feira entre partidários e opositores do presidente.
"Respeitamos a liberdade de expressão pacífica, mas não deixaremos ninguém participar de assassinatos e atos de sabotagem", disse. A oposição se comprometeu a "continuar utilizando todos os meios legítimos para proteger seus direitos e liberdades e voltar a colocar a revolução no bom caminho".
Os jovens do 6 de Abril, que participaram no ano passado da mobilização popular que levou à renúncia do então presidente Hosni Mubarak e formam parte do FSN, convocaram manifestações no Cairo e no resto do país. "Abaixo o poder do Guia" da Irmandade Muçulmana e "abaixo Mohamed Mursi", afirmaram em um comunicado.
A grave crise política que divide o país desde o anúncio do decreto sobre os poderes presidenciais, no dia 22 de novembro, levou a confrontos entre pró e anti-Mursi diante do Palácio Presidencial na noite de quarta-feira. Sete pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Os funerais de vários dos falecidos, que, segundo a Irmandade Muçulmana, eram partidários do presidente, foram organizados na mesquita Al-Azhar do Cairo, com a presença de Mohamed Badie, Guia Supremo do grupo ao qual o presidente pertence. A oposição denuncia a guinada autoritária de Mursi, porque o decreto impede qualquer recurso judicial contra suas decisões e também contra a comissão que elaborou o projeto de Constituição, dominada pelos islamitas.
Os opositores também pedem que seja abandonado o referendo sobre o projeto de Constituição, que oferece, segundo eles, poucas garantias para a liberdade de expressão e de religião.
Mursi alega que seus poderes ampliados são temporários e que têm por objetivo acelerar a transição política. Al-Azhar, a mais alta autoridade do islã sunita, pediu ao presidente que suspendesse seu decreto para superar a crise. O presidente americano, Barack Obama, conversou com telefone com Mursi para comunicá-lo sobre sua "profunda inquietação" pela violência.