Cairo - O principal gurpo da oposição secular do Egito rejeitou, nesta sexta-feira (7/12), uma oferta de diálogo proposta pelo presidente islâmico Mohamed Mursi, aumentando a possibilidade de mais uma escalada na crise, que havia começado de forma sangrenta no começo desta semana.
Os funerais da maioria das sete pessoas mortas em conflitos na noite de quarta-feira entre manifestantes favoráveis a Mursi e opositores - todos considerando-se membros da Irmandade Muçulmana - serão realizados nesta sexta, o tradicional dia de reza e descanso dos muçulmanos. A coalizão da Frente Nacional de Salvação, que faz parte da oposição, clamou para que a população saísse às ruas para mais manifestações após as orações do meio-dia.
Os protestos em massa serão um teste para militares e para a polícia de choque da guarda presidencial do palácio, que tentará conter as manifestações com tanques e barricadas com arame farpado. O bloco formado pela oposição acusou Mursi de rejeitar "as inúmeras reivindicações para soluções de consenso... para tirar o Egito desta desastrosa situação".
O presidente é acusado de "dividir os egípcios entre aqueles que apoiam a legitimidade... e seus opositores, a quem chamou de bandidos". Em discurso televisionado na noite desta quinta-feira, Mursi defendeu a necessidade de ter mais poderes em um decreto assinado no mês passado, e disse que vai se esforçar pela realização de um referendo no dia 15 de dezembro para reformar o projeto de Constituição do Egito elaborado por um conselho formado, em sua maioria, por muçulmanos.
[SAIBAMAIS]Mursi disse ainda que está preparado para dialogar com a oposição neste sábado, mas demonstrou pouca intenção de chegar a um acordo. O cenário fora do palácio presidencial parecia calmo com segurança reforçada. Dezenas de tanques e blindados estavam prontos para entrar em ação na região com a presença de soldados e da polícia de choque posicionados atrás de barricadas de arame farpado. Nesta quinta, eles já haviam feito uma varredura da área. A previsão é que os protestos aumentem ainda mais após as rezas.
O grupo de jovens ativistas 6 de Abril conclamou as pessoas a participar de marchas saindo das mesquitas do Cairo em direção às principais praças da capital. As manifestações ocorridas esta semana foram as maiores registradas desde que Mursi assumiu o poder em junho. Os conflitos nas ruas reavivaram o clima de agitação do levante de fevereiro de 2011, que derrubou Hosni Mubarak. Em seu discurso na noite de quinta-feira, Mursi afirmou que o referendo para a elaboração da Constituição está mantido, acrescentou que "ao final... todos deverão seguir a sua vontade". E destacou ainda: "Respeitamos uma liberdade de expressão pacífica, mas jamais permitiria que se recorresse a matanças ou a sabotagens".
Centenas de manifestantes opositores tentaram atacar a sede da Irmandade Muçulmana no Cairo no momento em que Mursi fazia seu pronunciamento. Eles foram contidos pela polícia de choque, que jogou bomba de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Pelo menos quatro assessores de Mursi já deixaram o governo durante a crise, e as ações na bolsa da Cairo sofreram um duro golpe.
Os Estados Unidos e a União Europeia convocaram o Egito para uma mesa de diálogo para pôr fim à crise. O presidente norte-americano, Barack Obama, expressou sua "profunda preocupação" em uma conversa por telefone com Mursi na quinta-feira, segundo informou a Casa Branca. Obama teria dito a Mursi que seria "essencial para os dirigentes egípcios que, no espectro político, deixassem de lado suas diferenças e chegassem a um acordo para que o Egito avançasse".