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Devastada por tufão, Filipinas pede pressa no combate a mudanças no clima

Doha - Devastadas esta semana pela passagem de um tufão, as Filipinas pediram nesta quinta-feira (6/12), em Doha, ação contra as mudanças climáticas, um dia antes do encerramento desta cúpula na qual os países do sul pedem ajudas financeiras às nações do norte.

"Faço um apelo a todo o mundo, aos líderes do mundo inteiro: abram os olhos e encarem a realidade de frente", declarou o líder da delegação filipina, Naderev Sano, diante de representantes de mais de 190 países.

Na noite de terça para quarta-feira, o sul das Filipinas foi arrasado pelo tufão Bopha, que até agora deixou cerca de 500 mortos, 400 desaparecidos e 250.000 pessoas sem teto.

"É um retorno brutal à realidade para minha delegação, sobre a realidade das mudanças climáticas", declarou o delegado filipino. "E enquanto estamos sentados aqui, enquanto hesitamos e adiamos as decisões, o número de mortes aumenta", acrescentou.

As delegações continuavam suas consultas para chegar a um acordo antes da sexta-feira que, seja qual for o conteúdo, não poderá estar à altura dos grandes desafios das mudanças climáticas.

Um dos temas em discussão é a ajuda financeira que os países do sul pedem dos países desenvolvidos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.

Estes países pedem US$ 60 bilhões até 2015 para garantir a transição entre a ajuda urgente de US$ 30 bilhões para 2010-2012, decidida em 2009, e a nova promessa de um pacote de US$ 100 bilhões anuais até 2020.

No entanto, até agora, os grandes provedores de recursos, como Estados Unidos, União Europeia e inclusive o Japão, não colocaram qualquer proposta na mesa de negociações.

"Os países em desenvolvimento estão preocupados porque anualmente é preciso voltar a este tema e não há uma visão global até 2020", explicou Steve Herz, da organização não governamental americana Sierra Club, que acusa os Estados Unidos de serem o principal responsável pelo bloqueio.

"Bloqueiam as discussões sobre o financiamento a longo prazo, não propõem metas a médio prazo e nem sequer estão dispostos a se comprometer a continuar fornecendo o dinheiro público prometido na ajuda de urgência", disse Herz durante entrevista coletiva.

Essa questão poderá bloquear o avanço de outros grandes temas de negociações em Doha, como o ato 2 do protocolo de Kioto, cujos detalhes ainda não foram resolvidos.

"O acordo sobre Kioto decidirá o êxito desta conferência", declarou o ministro das Relações Exteriores de Nauru, Kieren Keke, que preside a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS), muito vulneráveis às mudanças climáticas.

No entanto, o alcance será unicamente simbólico porque o acordo só afeta 15% dos gases de efeito estufa mundiais, emitidos principalmente por União Europeia e Austrália, depois da renúncia de Japão, Rússia e Canadá.

Apesar disso, os países em desenvolvimento insistem em manter o Protocolo de Kioto, que obriga as nações do Hemisfério Norte a agirem em nome de sua "responsabilidade histórica" nas mudanças climáticas.

Muitos países do sul, a começar por aqueles da AOSIS, querem que Kioto 2 dure cinco anos ao invés de oito, como quer a União Europeia, para não postergar demais no tempo as metas de redução dos gases estufa consideradas pouco ambiciosas.

"Este ponto está quase resolvido", declarou à AFP um negociador europeu.

Ainda falta chegar a um acordo sobre a questão do superávit das cotas de emissão de gases-estufa herdadas de Kioto 1, que alguns países do antigo bloco da Europa do leste, como a Polônia, querem estender.