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Exército egípcio ordena que manifestantes se afastem da presidência

Cairo - O Exército egípcio ordenou aos manifestantes que se retirem dos arredores do palácio presidencial, após confrontos entre partidários e opositores do presidente Mohamed Mursi, provocados pela decisão do chefe de Estado de ampliar seus poderes. O anúncio foi feito após uma reunião do ministro da Defesa e outros funcionários do governo com Mursi, que pretende discursar à nação ainda nesta quinta-feira.

A Guarda Republicana, uma unidade militar encarregada de proteger o presidente, "enfatizou a necessidade de evacuar a área ao redor do palácio até as 15h00 (11h00 no horário de Brasília) e decidiu proibir manifestações no em torno do" complexo no Cairo , de acordo com um comunicado emitido pela presidência.

Apenas os manifestantes pró-Mursi permaneceram perto do palácio após os confrontos que duraram toda a noite, e durante os quais cinco manifestantes foram mortos e centenas ficaram feridos, na pior onda de violência desde a eleição em junho do primeiro presidente islâmico do Egito.

Eles começaram a recolher seus pertences para deixar o local após o ultimato do Exército. Muitos islamitas dormiram no local, em tendas ou enrolados em cobertores, de acordo com um jornalista da AFP. Durante a noite, confrontos com pedaços paus, coquetéis molotov e pedradas aconteceram entre os lados rivais com breves períodos de calma, e tiros foram ouvidos.

Nas primeiras horas desta manhã, tanques do Exército foram posicionados nas proximidades do complexo presidencial e em uma grande avenida próxima, no bairro residencial de Heliópolis. O general Mohammed Zaki, chefe da Guarda Republicana, ressaltou que o Exército não irá recorrer à força contra os manifestantes.

Bolsa sente o golpe

As proximidades do palácio refletiam a intensidade dos confrontos: ruas cobertas de pedras e cacos de vidro, com muitos carros com janelas quebradas.

Depois das convocações para manifestações na quarta-feira, a situação degenerou entre os dois campos rivais. Quatro manifestantes foram mortos a tiros e um com um disparo de escopeta no peito, segundo a agência oficial Mena. As autoridades relataram 644 feridos e 50 detenções. Os opositores de Mursi também incendiaram sedes da Irmandade Muçulmana em Ismailiya e Suez (nordeste). A Bolsa de Valores do Cairo também sentiu o golpe, o benchmark EGX-30 perdia 4,7% ao meio-dia.

O Egito enfrenta uma grave crise desde a adoção de um decreto em 22 de novembro, segundo o qual, Mursi ampliou seus poderes, uma situação semelhante à de plenos poderes. A oposição denuncia a guinada autoritária do presidente e pede a anulação do decreto que amplia consideravelmente seus poderes.

Também protesta contra um projeto de Constituição, que será submetido a referendo em 15 de dezembro, porque consideram que abre caminho para uma aplicação ainda mais rígida da lei islâmica e não dá garantias suficientes para proteger os direitos fundamentais, entre eles a liberdade de expressão.

O presidente egípcio assegura que estas medidas são destinadas a acelerar a transição democrática, e insiste que seus poderes excepcionais, que devem terminar com a aprovação da Constituição, são apenas "temporários". Para sair da crise, a instituição egípcia Al-Azhar, a maior autoridade sunita, pediu a suspensão do decreto.

Suspensão do decreto

"Mohamed Mursi. Você é o responsável", acusou a página no Facebook "Somos todos Khaled Said", que contribuiu com a revolta que derrubou Hosni Mubarak em fevereiro de 2011. "Estamos aqui pela liberdade, eles estão aqui pela violência", afirmou um anti-Mursi, Ali Gamal. "É uma guerra civil que vai queimar a todos", lamentou Ahmed Fahmy.

A oposição exige a anulação do referendo e a suspensão do decreto como condição par ao diálogo. Mohamed ElBaradei, chefe da coalizão de oposição, culpou Mursi pela violência. "O regime perde a sua legitimidade a cada dia".

Após a renuncia de quatro conselheiros do presidente frente a escalada, o presidente da televisão estatal também anunciou que deixaria as suas funções, segundo o jornal al-Masry al-Youm.

No exterior, a Europa e os Estados Unidos pediram a retomada de um diálogo.