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UE e EUA indicam a países do sul que estão sem dinheiro para o clima

Doha - A União Europeia e os Estados Unidos jogaram um balde de água fria naqueles que esperavam um compromisso ambicioso de ajuda aos países do sul que reivindicam US$ 60 bilhões até 2015, na conferência sobre o clima realizada em Doha. Esta ajuda era considerada uma condição para o avanço das negociações de um segundo período de vigência para o Protocolo de Kioto.

"Os tempos são difíceis para as finanças na Europa", disse à imprensa o negociador europeu, Pete Betts. "Nós, assim como outros países desenvolvidos, não poderemos nos comprometer até 2015", afirmou. Embora Reino Unido e Alemanha tenham informado sobre o dinheiro que vão dedicar a este tema nos próximos anos, não se trata de recursos novos.

Os países em desenvolvimento pedem US$ 60 bi até 2015 para garantir uma transição entre a ajuda de emergência decidida em Copenhague em 2009, incluindo US$ 30 bilhões no período 2010-2012, e a promessa de US$ 100 bilhões até 2020. Este dinheiro se destina particularmente a ajudar estes países a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas como os eventos extremos. "Se a questão é saber se haverá anúncios aqui sobre novas promessas, não é a questão adequada", disse o negociador americano Jonathan Pershing.


Trata-se de um dos principais obstáculos para as negociações no âmbito das Nações Unidas sobre o clima, que se encerrarão na madrugada de sábado em Doha, capital do Qatar, onde se trata de desenhar um novo protocolo para enfrentar as mudanças climáticas, denominado Kyoto II. Diferente do Protocolo de Kyoto, que só vincula legalmente os países industrializados, com exceção dos Estados Unidos, que não ratificaram o tratado, Kyoto II pretende envolver todos os países, inclusive os principais poluentes - Estados Unidos e China a partir de 2020.

"Queremos ver o dinheiro sobre a mesa antes de partirmos", disse o negociador gambiano Ousman Jarju, que representa os países menos desenvolvidos. A secretária de Estado do Meio Ambiente alemã Katherina Reiche anunciou esta quarta-feira US$ 800 milhões "adicionais" para os anos 2013-2014. "Esperamos que isto permita aportar um pouco de movimento às negociações", disse. Na véspera, o Reino Unido tinha anunciado que gastará 1,8 bilhão de libras (US$ 2,8 bilhões) em 2014-2015, mas as ONGs criticaram que se tenha anunciado algo que já está no orçamento.

Países árabes, muito afetados pelas mudanças climáticas

Embora os efeitos das emissões de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, afetem todo mundo, o Banco Mundial advertiu esta quarta-feira que os países do Oriente Médio e da África do Norte serão particularmente afetados. Se a tendência atual se mantiver, as temperaturas médias nos países árabes aumentarão 3;C até 2050 e 6;C no caso das temperaturas noturnas, segundo informe publicado durante esta conferência da ONU.

"O clima dos países árabes vai conhecer temperaturas extremas sem precedentes", advertiu o informe. A chuva na região, que já conta com o menor volume de água doce do mundo, será cada vez mais aleatória. "Cada vez haverá menos água e, com o crescimento desta população, esta região já pobre em água não terá recursos suficientes para irrigar as colheitas, para a indústria, nem fornecer água potável", acrescentou o Banco Mundial.

A água procedente das chuvas diminuirá 10% até 2050, enquanto a demanda por água, potável ou não, aumentará 60% neste período. Segundo o relatório, "a mudança ameaçará os pilares essenciais do desenvolvimento".

As mudanças climáticas afetaram ou vão afetar a maioria dos 340 milhões de habitantes do mundo árabe, mas deles, os 100 milhões mais pobres serão os mais duramente afetados. Ao lado da escassez de água e da elevação das temperaturas, os agricultores terão que enfrentar pragas de insetos e a deterioração da fertilidade do solo, sem contar as colheitas, cada vez mais magras.

Além da agricultura, o turismo será afetado, assim como a saúde, com doenças como a malária e o dengue chegando a novas regiões. O Banco Mundial pede que sejam tomadas medidas urgentes para garantir que os planos de adaptação às mudanças climáticas sejam integrados às políticas nacionais.