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Negociações entre governo e guerrilha da Colômbia são retomadas em Havana

Havana - Os delegados do governo da Colômbia e da guerrilha das Farc retomaram nesta quarta-feira (5/12) suas negociações em Havana após um recesso de cinco dias, com um apelo dos rebeldes para que toda a sociedade colombiana participe deste processo para garantir uma "paz duradoura".

Os diálogos de paz de Havana, que tiveram sua primeira rodada entre 19 e 29 de novembro, tentam pôr fim a um conflito armado de quase meio século. Eles foram retomados em meio a novas tensões causadas pelo limite de um ano para que as negociações sejam concluídas fixado pelo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, após um ataque militar que matou cerca de 20 rebeldes e uma polêmica sobre possíveis sequestrados em poder das Farc.

"Nosso empenho é no sentido de que as vozes de todos os colombianos sejam bem-vindas no processo de conversações. Apenas com isso acreditamos que uma paz duradoura possa ser criada", indicou uma declaração das Farc lida por seu delegado Marcos Calarcá, antes do início da segunda rodada de negociações, por volta das 09h00 locais (13h00 de Brasília), no Palácio das Convenções de Havana.

A delegação do governo de Juan Manuel Santos, liderada por Humberto de la Calle, evitou a imprensa, entrando no Palácio por uma porta na parte de trás.

O chefe negociador das Farc, Iván Márquez, também entrou por uma porta secundária, acompanhado de Ricardo Téllez e Jesús Santrich, enquanto Calarcá lia a declaração, constataram jornalistas da AFP.

Calarcá disse que "todos são responsáveis e vítimas de um conflito que já pesa bastante nos ombros da nação inteira. Definitivamente, a paz não poderá ser resultado de um diálogo distante do povo da Colômbia, de uma decisão tomada do alto, de imposições unilaterais".

Antes de deixar Bogotá em direção a Havana na terça, De la Calle pediu que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) esclareçam sua posição em relação aos sequestros, depois de uma guerrilheira ter dito que mantêm "prisioneiros de guerra", apesar de em fevereiro terem anunciado que estavam abandonando esta prática.

"As Farc têm que responder às vítimas, têm que esclarecer o problema dos sequestros", ressaltou De la Calle, em reação às declarações de Sandra Ramírez, viúva do fundador das Farc, Manuel Marulanda, que disse à imprensa cubana que seu grupo mantinha em seu poder militares e policiais colombianos, que considera "prisioneiros de guerra".

As declarações de Ramírez foram desmentidas imediatamente por Ricardo Téllez, membro da equipe negociadora das Farc, que reiterou que seu grupo já não tem nem militares nem civis em seu poder.

As Farc disseram nesta quarta-feira em sua declaração que "é normal que no começo as posições estejam distantes", pois "a Mesa de Havana é o ponto de encontro de duas formas de ver a problemática nacional".

Tanto o governo como a guerrilha consideraram que houve avanços na primeira rodada. O próprio Santos afirmou que o primeiro encontro foi "positivo", mas advertiu no domingo que as negociações devem terminar em novembro de 2013, no máximo.



Na primeira rodada, as partes decidiram convocar um fórum sobre desenvolvimento agrário, de 17 a 19 de dezembro em Bogotá, e criar um site (mesadeconversaciones.com.co) para facilitar a divulgação dos comunicados conjuntos e outras informações da mesa, assim como para abrir um espaço de participação da sociedade colombiana no processo de paz.

As negociações foram realizadas até agora em torno do complexo tema agrário, primeiro ponto da agenda e causa do conflito que levou em 1964 à criação das Farc, que atualmente contam com cerca de 9.200 combatentes.

A agenda inclui outros quatro pontos: drogas ilícitas, participação política, abandono das armas e reparação às vítimas.

O conflito colombiano, o mais antigo da América Latina, causou cerca de 600.000 mortes, deixando 15.000 desaparecidos e quatro milhões de deslocados, segundo dados oficiais.