JERUSALEM - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mantém seus projetos de assentamentos e explora as críticas internacionais como argumento eleitoral contra a oposição, acusada de fazer o jogo do exterior, a poucas semanas das eleições legislativas.
No plano diplomático, Netanyahu deve tentar atenuar as tensões provocadas por sua política durante uma visita a Berlim, onde se encontrará com a chanceler alemã, Angela Merkel.
A Alemanha, considerada a potência europeia mais próxima de Israel, se absteve de votar na quinta-feira, na Assembleia Geral da ONU, sobre o status de Estado observador não-membro da Palestina. Apenas nove países votaram contra.
Israel reagiu à conquista palestina anunciando a construção de 3.000 novas habitações em assentamentos em Jerusalém e na Cisjordânia, e o planejamento de outras 1.600.
A abstenção da Alemanha tem sido interpretada como um sério revés para Netanyahu. Especialmente depois que os embaixadores israelenses em vários países europeus, incluindo a França e a Grã-Bretanha, foram convocados na segunda-feira para esclarecer os projetos de colonização. Washington também exortou Netanyahu a abandonar esses planos.
Internamente, o isolamento diplomático de Israel tornou-se o centro da campanha, até então ocupado pelas questões sociais. "Foi a esquerda israelense que provocou críticas internacionais", afirmou nesta terça-feira o ministro do Meio Ambiente à rádio pública, Gilad Erdan. Ele descreveu como "provocador nacional" o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, que denunciou o renascimento da colonização.
"A esquerda agita a pressão estrangeira", foi o título de um editorial do jornal Israel Hayom, próximo do primeiro-ministro. "Que Israel se torne Estado pária"
Em resposta, Tzipi Livni, ex-chanceler (2006-2009), que acaba de criar um novo partido de centro, acusou a coalizão de governo de se aproveitar de "uma campanha de provocação para apresentar todos aqueles que criticam o governo como colaboradores do inimigo".
De acordo com vários analistas, pessoas próximas a Netanyahu supeitam que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obamam, e líderes dos países europeus desejem enfraquecer Benjamin Netanyahu nas próximas eleições.
O jornal Yediot Aharonot citou uma fonte do ministério das Relações Exteriores que acusou os países europeus de "uma interferência grosseira" nas eleições.
"Eles lançam uma mensagem de que aqueles que optam por votar em Netanyahu votam para que Israel se torne um Estado pária", afirmou o funcionário, dizendo que tal ataque é inimaginável "sem uma coordenação e aprovação da administração de Barack Obama" .
Confrontado com estas críticas, a margem de manobra de "Bibi" Netanyahu é limitada. Um analista político da rádio pública ressaltou que agora o primeiro-ministro não pode voltar atrás e renunciar publicamente esses projetos, com a aproximação das eleições de 22 de janeiro.
"Ele não tem voz para ganhar o centro, ele pode vencer unicamente com a direita", isto é, entre as formações ultranacionalistas favoráveis à colonização acelerada, constatou o comentarista.
As pesquisas, no entanto, indicam uma vitória com ampla vantagem para a direita de Netanyahu contra uma oposição centrista e de esquerda muito divididas.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Danny Ayalon, minimizou o impacto da crise diplomática. "Este não é o fim do mundo", disse Ayalon, membro do partido ultra-nacionalista Israel Beiteinu, que formou uma aliança eleitoral com o Likud. "Defender a segurança de Israel é mais importante do que relações públicas diplomáticas".