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Alta Corte Constitucional do Egito entra em greve

Cairo - A Alta Corte Constitucional do Egito iniciou neste domingo uma greve por tempo indeterminado, em protesto contra a pressão de partidários do presidente Mohamed Mursi, que impediu os juízes de examinar a polêmica sobre a composição da comissão Constituinte, dominada por islamitas.

Antes do anúncio, a Alta Corte Constitucional do Egito havia postergado a audiência na qual devia examinar no domingo a legalidade da comissão que redigiu um polêmico projeto de Constituição e a própria Câmara Alta do Parlamento, ambos dominados por islamitas.

Centenas de partidários do presidente Mursi realizavam uma ruidosa manifestação diante das oficinas da Corte, muitos dos quais inclusive passaram a noite no lugar mostrando cartazes de apoio ao líder.

Alguns manifestantes chegaram a impedir a entrada dos juízes no edifício. Um dos acessos ao prédio foi bloqueado, assim como a estrada principal ao longo do rio Nilo.

"A vontade do povo é mais forte que a vontade de alguns juízes", afirmou um manifestante, Ismail Ahmed, 39 anos, em referência ao fato de muitos dos juízes terem sido nomeados por Mubarak, deposto por uma contestação popular em 2011.

Para denunciar as "pressões psicológicas ou materiais", a Corte anunciou em um comunicado que decidiu suspender suas audiências, rejeitando o "assassinato psicológico" dos juízes e chamou os eventos deste domingo de "dia negro na história da justiça egípcia".

O Poder Judiciário está envolvido em uma queda de braço com Mursi desde o decreto de 22 de novembro, segundo o qual o presidente islamita proíbe qualquer ação legal contra suas próprias decisões e contra a Comissão Constitucional, boicotadas pela oposição de esquerda, liberais e cristãos.

"Último aviso"

A greve da Corte Constitucional, composta por 19 juízes para analisar a constitucionalidade das leis, aumenta a pressão sobre o presidente.

A Constituição, que deve ser submetida a um referendo em 15 de dezembro, é o centro da pior crise no Egito desde a chegada de Mursi ao poder, e revela as profundas divisões entre os islâmicos e grupos laicos.

No sábado, milhares de islamitas manifestaram o seu apoio a Mursi, um dia após uma manifestação em massa da oposição contra o reforço dos poderes do presidente e do projeto de Constituição, acusado de ameaçar a liberdade de religião e de expressão, assim como os direitos das mulheres.

Vários partidos e grupos de oposição anunciaram neste domingo a convocação de uma manifestação, considerada o "aviso final" para terça-feira em frente ao palácio presidencial, para protestar contra o decreto, os poderes do presidente e contra o referendo sobre o projeto de Constituição.

Entre os líderes da oposição estão o Partido da Constituição, fundado pelo ex-chefe da agência nuclear da ONU, Mohamed El Baradei, o Movimento da Corrente Popular do ex-candidato presidencial Hamdeen Sabbahi, assim como os Jovens do 6-Abril-Frente Democrática, que participou da revolta anti-Mubarak no início de 2011.

Estes opositores já haviam pedido a rejeição ao decreto e o cancelamento do projeto de Constituição, adotado entre a madrugada de quinta e sexta-feira após meses de bloqueio, destacando o direito do povo a "usar todos os meios pacíficos para protestar, incluindo a greve geral e a desobediência civil".

A oposição já havia ameaçado a realização do referendo. Uma fonte próxima a Mursi rejeitou neste domingo essa possibilidade, apontando que o Egito tem 14.000 juízes, e que nem todos estão envolvidos neste equilíbrio de poder.

"Uma nação, dois povos", escreveu o jornal independente Al-Chourouq, enquanto o Al-Masri Al-Yom deu em sua manchete: "O Egito em cima de um vulcão".